Peço licença aos Titãs para fazer uma referência à música “Polícia” no título deste artigo. É importante esclarecer, contudo, que trato aqui da maconha medicinal. Rigorosamente, deveríamos usar o termo canabinoides com potencial terapêutico —a variedade de termos gera confusão no Brasil e no mundo.
Em alguns estados americanos que liberaram a maconha para fins medicinais, observou-se diminuição sensível da percepção de riscos em relação ao uso recreativo da droga, quadro a sugerir que a população não distingue com clareza o uso recreativo do terapêutico.
Talvez aproveitando essa desinformação, defensores da legalização da maconha recreativa aderiram à luta pela sua liberação para fins medicinais.
Essa união aumentou o poder dos estudiosos da “maconha medicinal”, potencialmente útil no controle de náuseas e dor em pacientes com câncer, na esclerose múltipla, em epilepsia, infecções virais, Alzheimer e ansiedade, por exemplo.
O estímulo a essas pesquisas é o ponto positivo da questão. Por outro lado, promoveram-se desinformação e generalizações indevidas.
A maconha é uma substância psicoativa (droga) preparada a partir da planta Cannabis sativa, indica ou ruderalis. Dela são extraídas substâncias chamadas canabinoides — existem, segundo cálculos, de 60 a 110 tipos.
Um deles, o THC (Delta-9-tetrahidrocanabinol), é o que promove os efeitos prazerosos. Há vários outros canabinoides extraídos da mesma planta, mas sem efeito psicoativo significativo (o que chamamos popularmente de barato).
E já é possível também produzir canabinoides sintéticos em laboratórios. Ou seja, vários deles podem ter efeitos terapêuticos e se tornarem medicamentos sem a necessidade de legalização do uso recreativo da maconha ou de submeter pacientes ao efeito psíquico da droga e a seus riscos de dependência.
Tais riscos acabaram menosprezados por muitos que usam maconha recreativamente acreditando que o ato é terapêutico.
É cada vez mais frequente atender jovens que dizem consumir maconha por seus supostos efeitos terapêuticos no tratamento contra ansiedade, insônia, estresse, nervosismo, timidez e desatenção.
As informações abundantes na internet, quase sempre parciais, reforçam essa ideia e dão a sensação aos jovens de são especialistas no tema.
Artigo de fevereiro da revista médica “Jama” apontou que, embora a FDA (órgão dos EUA similar a nossa Anvisa) ainda não tenha regulamentado nenhum uso terapêutico da cannabis, 92% dos pediatras pesquisados afirmaram que recomendariam maconha a pacientes com câncer.
É interessante destacar que os médicos certificados a prescrever cannabis medicinal apresentaram taxas menores de indicação, provavelmente por conhecerem melhor o assunto. Esses dados sugerem que nós, médicos, também somos influenciados pelo possível efeito terapêutico propagandeado por essa indústria já bastante poderosa.
Acredito nos potenciais terapêuticos dos canabinoides e defendo estudos criteriosos sobre o tema. Mas está claro também que a população em geral precisa de mais informações a respeito do assunto.
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