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Nicola Calicchio: O mundo em seis tendências

Versão regional do Fórum Econômico Mundial, que ocorre em São Paulo, é um bom momento para falar sobre desenvolvimento

O secretário da Fazenda do estado de São Paulo, Hélcio Tokeshi, fala em evento "Inovação Social  Desafios e Novos Modelos", realizado pela Folha e pela Fundacao Schwab como parte da agenda do Fórum Econômico Mundial na América Latina
Evento "Inovação Social Desafios e Novos Modelos", realizado pela Folha e pela Fundacao Schwab como parte da agenda do Fórum Econômico Mundial na América Latina. Na foto, o secretário da Fazenda do estado de São Paulo, Hélcio Tokeshi - Reinaldo Canato/Folhapress
Nicola Calicchio

São Paulo vai sediar, a partir desta terça-feira (13), o World Economic Forum on Latin America, versão regional do Fórum Econômico Mundial. São esperados 750 líderes do governo, empresariado e sociedade civil. É um momento especial para tratar de desenvolvimento econômico, por ao menos seis razões.

1) O mundo está eufórico com o crescimento.
Em Davos, no Fórum Econômico Mundial, em janeiro, havia quase uma competição entre financistas, executivos e economistas para saber quem apostava no maior aumento do PIB global em 2017. O FMI, por exemplo, subiu seu número para 3,9%. A reforma tributária americana causou uma enxurrada de anúncios de investimento no país.

O tal soluço chinês, tão previsto, parece cada vez mais distante. A Europa, até outro dia um caso perdido de envelhecimento populacional e impasse institucional, voltou a crescer, assim como o Japão.

Uma pesquisa com 1.300 executivos em Davos mostrou que 57% se dizem otimistas com a economia global, o maior número já registrado desde que esse levantamento começou a ser feito, há sete anos.

2) Há, porém, riscos no horizonte que precisam ser mais bem compreendidos.
No campo financeiro, a grande liquidez e os níveis elevados de débito podem causar danos. Diversos economistas têm apontado o perigo de que bolhas globais de ativos venham a provocar problemas.

Há ainda diversos riscos geopolíticos pouco citados, como a possibilidade de uma grande crise de cibersegurança em um mundo ultraconectado. "Nós precisamos de uma Convenção de Genebra digital", disse Satya Nadella, presidente-executivo da Microsoft.

3) Além disso, a sombra do protecionismo está sempre ao redor. 
Os países seguem ameaçando e, em alguns casos, impondo restrições à importação de produtos, o que tem impacto negativo na produtividade global.

Os EUA, por exemplo, anunciaram no começo do ano novos impostos sobre painéis solares e máquinas de lavar importadas, especialmente da China e da Coreia do Sul, e há preocupação sobre o futuro do Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio).

4) As empresas estão se transformando profundamente.
Nossas conversas com companhias globais em diferentes áreas, de telecomunicações a farmacêuticas, de bancos a empresas de energia, mostram que muitas passam por mudanças extremas, impulsionadas pelas possibilidades criadas pelas novas tecnologias e pela competição global a que estão submetidas.

Um caso extremo citado em Davos: uma farmacêutica avalia reduzir suas atividades na matriz em quase 90%, terceirizando tudo o que for possível pelo mundo, aproveitando oportunidades em custo e em qualidade. A mudança geográfica passou de vez a fazer parte do arsenal estratégico corporativo. 

5) Vivemos sob a era da inovação social.
Empresas serão cada vez mais cobradas não só por resultados, mas pelo impacto na sociedade. As gigantes da tecnologia são um exemplo disso, considerando todo o debate sobre domínio de mercado, uso de dados e políticas de privacidade que agora as cerca.

6) Existe uma guerra global por cérebros.
Nunca se falou tanto na importância de recrutar, desenvolver e gerenciar o capital humano das empresas. A disputa por talentos se tornou global e, nestes tempos de mudanças aceleradas, será essencial contar com gente excepcional.

No campo das políticas públicas, será preciso remodelar os sistemas de educação para que eles preparem os jovens para as necessidades profissionais do século 21, muito mais imprevisíveis e sofisticadas.

Quanto ao Brasil, há nessas tendências boas notícias, como o crescimento global que nos afeta, e pontos de preocupação, como a necessidade de aprimorar amplamente o sistema de ensino. É um bom começo que parte importante dessa discussão esteja ocorrendo entre nós.

NICOLA CALICCHIO, formado em engenharia civil pela UFMG, é sócio sênior e líder regional da McKinsey na América Latina

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