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Desacordo sobre o Irã

Se a Casa Branca implodir pacto, abrirá caminho para segmentos ultraconservadores do Irã

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é apresentado em evento em Washington
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é apresentado em evento em Washington - Pablo Martinez Monsivais/Associated Press

Numa eventual lista de reparos a fazer sobre Donald Trump, decerto não há como incluir a falta de coerência com promessas de campanha. Benéficas ou não a seu país, ele as tem perseguido, e uma delas pode ser cumprida em poucos dias: retirar os EUA do acordo nuclear com o Irã, assinado em 2015.

Desde que se tornou candidato republicano, o presidente demonstra a intenção de romper o que chama de “pior pacto da história”, firmado por seu antecessor, Barack Obama, ao lado dos outros integrantes do Conselho de Segurança da ONU (China, Rússia, França e Reino Unido), da Alemanha e da União Europeia .

Terá a chance de fazê-lo no próximo dia 12, prazo-limite para decidir se mantém ou revoga a suspensão das sanções contra Teerã —contrapartida essencial das potências ocidentais para que o governo persa se comprometa a produzir combustível nuclear apenas para fins pacíficos.

Dotado de inegável senso de oportunismo, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, apresentou na segunda-feira (30) imagens de supostos documentos obtidos pelo Mossad, o serviço secreto local, que comprovariam a manutenção de um programa iraniano de armas atômicas, mesmo após o acordo multilateral.

O dossiê, a despeito de aparentemente não trazer evidências irrefutáveis, tem claro propósito de influenciar Trump, hoje o único ator envolvido na questão que se alinha aos argumentos israelenses.

Netanyahu parte do princípio de que não se pode confiar em um país cujo líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, prega costumeiramente a destruição do Estado judeu. Por essa lógica, permitir que o Irã disponha de recursos nucleares, ainda que sob supervisão internacional, representa um perigo grande demais.

Inconteste que a teocracia iraniana fomenta a instabilidade no Oriente Médio, ao financiar milícias como a libanesa Hizbullah (que já travou guerra com Israel) e manter uma disputa indireta com outra força regional, a Arábia Saudita. 

Exatamente por isso, entretanto, o acordo de 2015 constitui a opção menos imperfeita para lidar com uma nação inclinada ao conflito, como já se defendeu aqui. A existência de um canal de diálogo ao menos impede que o outro lado se isole de vez e tome suas decisões sem nenhuma verificação externa.

Se a Casa Branca implodir o pacto, agradará a um aliado, mas abrirá caminho para segmentos ultraconservadores do Irã fortalecerem o discurso de confrontação aberta com o Ocidente —algo ruim para todos, inclusive Trump.

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Erramos: o texto foi alterado

A versão anterior deste texto deixou de mencionar a União Europeia como signatária do acordo nuclear firmado com o Irã em 2015. O texto foi corrigido.

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