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Putin, capítulo 4

Presidente tem o desafio de sanar problemas internos para não pôr em risco a sua imagem

O presidente russo, Vladimir Putin, que iniciou o quarto mandato como presidente do país
O presidente russo, Vladimir Putin, que iniciou o quarto mandato como presidente do país - Alexander Zemlianichenko/Pool/Reuters

Iniciado nesta segunda-feira (7), o quarto mandato de Vladimir Putin o consolida como o homem mais poderoso da Rússia do século 21. Ao mesmo tempo, impõe-lhe o desafio de sanar problemas internos para não pôr em risco a imagem de líder aclamado que pretende deixar.

Desde o fim de 1999, os russos não conhecem outro governante —entre 2008 e 2012, por não poder concorrer três vezes seguidas, ocupou o cargo de primeiro-ministro, mas na prática continuou no poder, tendo um preposto como presidente.

Esse domínio, cumpre dizer, tem se dado por legítima vontade popular. Putin detém índices de aprovação que beiram 80%, em boa parte pelo fato de seu discurso patriótico, de enfrentamento das potências ocidentais, ter resgatado o orgulho de uma nação que saiu enfraquecida do período soviético.

Em seu discurso de posse, o mandatário elencou como principal tarefa o aumento da renda real da população, diante de uma economia em dificuldade por causa dos preços baixos do petróleo e do impacto das sanções dos EUA contra Moscou. Segundo pesquisa, 45% dos russos consideram a desigualdade um fracasso de seu governo.

Atribui-se o foco do mandatário nas questões domésticas à preocupação de não criar um cenário propício a protestos de rua, ainda mais a pouco mais de um mês de o país sediar a Copa do Mundo —uma grande vitrine para a ostentação de força ante a comunidade internacional.

Não que isso signifique receio em reprimir manifestações. No último sábado (5), 1.600 pessoas foram presas por terem participado de passeatas sem a autorização prévia de autoridades municipais.

Entre os detidos estava o organizador dos atos, Alexei Navalni, o líder opositor mais conhecido e impedido de concorrer no pleito de março. Entretanto, num sinal de que o Kremlin não deseja um ambiente conturbado às vésperas do Mundial, Navalni foi solto um dia depois.

No front externo, nada indica que a abordagem agressiva vá mudar. A acusação de interferência nas eleições americanas de 2016 e o apoio militar ao ditador sírio Bashar al-Assad, por exemplo, renderam retaliações econômicas da Casa Branca, mas também a percepção de que os russos voltaram a ter papel relevante no palco global.

Nos próximos seis anos, Putin terá a oportunidade de moldar seu legado —contando, claro, que decida mesmo sair da vida pública em 2024.

Por mais avanços que ele ainda venha a proporcionar à população russa, não se apagarão, porém, sua faceta autoritária e o pendor para tomar decisões que geram instabilidade em diversas partes do mundo.

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