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Cotas de aço

Diante da insensata ofensiva protecionista de Trump, Brasil é forçado a aceitar limites

Bobinas de aço na ArcelorMittal em Hamilton, no Canadá
Bobinas de aço na ArcelorMittal em Hamilton, no Canadá - Peter Power/Reuters

Com a decisão do governo americano de suspender as negociações, o Brasil teve de escolher entre duas alternativas ruins —ou aceitava limitar as vendas de aço para os Estados Unidos, escapando de tarifas adicionais, ou ficaria sujeito a uma sobretaxa de 25% sobre todo o volume exportado.

Entre as duas, a menos nociva do ponto de vista da indústria era submeter-se às cotas, que resultarão em queda de 12% das exportações em relação ao total de 2017, para 4,1 milhões de toneladas anuais. 
No caso do aço semiacabado, que representa 85% das vendas brasileiras, haverá limitação em 3,5 milhões de toneladas, 7,4% a menos que o verificado no ano passado.

Aqui, o impacto pode até ser considerado modesto. Como não há grande competição entre a indústria brasileira e a americana nesse segmento —principal argumento utilizado pelo Itamaraty—, a agressividade do governo Donald Trump acabou mais contida. 

O estrago maior se dará nas vendas de aço acabado, que sofreram um redutor de 30% sobre a média do último triênio. Dependendo do produto (planos, longos, tubos ou aços especiais), a queda pode chegar a 60%. Nessa fatia do mercado, estabeleceu-se o limite de 496 mil toneladas daqui para a frente. 

De todo modo, as perdas para o Brasil são relevantes. As exportações de aço chegaram a US$ 2,6 bilhões no ano passado, 3% da pauta nacional, e os EUA responderam por 44% das compras do produto. Com a baixa ocupação da capacidade instalada local, em torno de 76%, as siderúrgicas devem sofrer. 

Contestar as sanções na Organização Mundial do Comércio (OMC) é visto como contraproducente, pois levaria à imposição imediata das sobretaxas, com prejuízos maiores no curto prazo.

A busca por outros parceiros tampouco será fácil, já que o mercado mundial sofre de excesso de capacidade devido aos investimentos da China nas últimas duas décadas. 

Para Trump e sua equipe de assessores protecionistas, os preços baixos causados pela fartura da oferta estariam destruindo a produção do país —ameaçando, como se alega de modo quase caricato, a segurança nacional.

Os americanos tiveram mais cuidado com aliados estratégicos, como Canadá e Europa —que continuam preservados por ora, em meio a negociações. Não se descarta que a isenção de cotas e sobretaxas para eles possa ser definitiva.

Fato é que a ofensiva, se ampliada, resultará em perturbação considerável do comércio global, com potencial efeito negativo sobre o crescimento econômico.

O governo Trump vai repetindo, em grande escala, o erro tantas vezes cometido pelo Brasil. O desconhecimento dos benefícios do livre comércio só leva a ineficiência e prejuízo aos consumidores.

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