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Promessas de Kim

Líder norte-coreano anunciou que fechará o principal complexo nuclear do país

O líder norte-coreano Kim Jong-un - Divulgação

Alardeadas como passo significativo para conter uma potencial ameaça de proporções globais, as negociações lideradas pelos EUA para que a Coreia do Norte abandone seu programa nuclear e se desfaça de seu arsenal carecem, ao menos por ora, de resultados concretos.

Não obstante, os dois principais personagens mostram-se contentes com o andamento do processo. O ditador Kim Jong-un desfia promessas desde o celebrado encontro com Donald Trump, em junho, sem ter tido o ônus de cumprir nenhuma delas até o momento.

O presidente americano, porém, vê avanços. Chamou de “tremendo progresso” o saldo da terceira reunião de Kim com o mandatário da Coreia do Sul, Moon Jae-in, encerrada nesta quinta-feira (20).

Desta feita, o líder norte-coreano anunciou que fechará o principal complexo nuclear do país, permitindo a presença de observadores internacionais. Comprometeu-se, ademais, a desativar uma base utilizada para o lançamento de mísseis intercontinentais.

Em teoria, as medidas justificariam entusiasmo, mas de partida esbarram na condição, imposta por Kim, de que os EUA tomem ações semelhantes, sem explicar o que ele entende por isso.

Caso seja cobrar o desarmamento atômico americano, trata-se de algo que nunca esteve em discussão pelas partes e decerto inviabilizaria qualquer diálogo.

Há que levar em conta também as ressalvas de especialistas militares quanto à possibilidade de Pyongyang manter a capacidade de produzir ogivas nucleares e lançá-las por outros meios.

Posto tal cenário, não faltam motivos para colocar sob suspeição, para dizer o mínimo, a real disposição de Kim de fazer valer os termos do acordo. A Agência Internacional de Energia Atômica afirmou que a Coreia do Norte tem prosseguido com suas atividades, e assessores da própria Casa Branca alertaram Trump a respeito.

Cumpre reconhecer, porém, que desde o início das tratativas o ditador não mais realizou testes com mísseis, o que vinha causando crescente tensão regional. Se por um lado pode-se enxergar a aproximação a Kim como conferir legitimidade a um Estado-pária, mantê-lo em isolamento já se provou uma estratégia arriscada.

Cabe aos EUA cobrar com mais vigor que o discurso norte-coreano se materialize, sob pena de manutenção ou mesmo ampliação das sanções contra o regime. Por mais que Trump expresse satisfação, só o outro lado tem razão para se sentir confortável ao oferecer quase tudo e entregar quase nada.

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