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As boas intenções

Restrição ao encaminhamento de mensagens do WhatsApp é bem-vinda, mas a empresa poderia fazer muito mais

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El presidente ejecutivo de Facebook, Mark Zuckerberg, testifica ante el Senado de Estados Unidos
Mark Zuckerberg, fundador e presidente executivo do Facebook, que controla o aplicativo de mensagens WhatsApp, depõe ao Congresso americano sobre o caso Cambridge Analytica - Ting Shen - 10.abr.2018/Xinhua

O WhatsApp anunciou nesta semana uma mudança significativa no funcionamento de seu popular aplicativo de mensagens, restringindo a capacidade de usá-lo para disseminar textos, arquivos de áudio, fotos e vídeos.

O número de vezes que alguém pode reenviar a mesma mensagem foi reduzido de 20 para 5. Até recentemente, não havia nenhum limite, o que permitia que muitos se comunicassem simultaneamente com milhares de pessoas.

A nova regra integra a lista de esforços que a empresa tem feito, timidamente, com o objetivo de conter a divulgação de mentiras e campanhas de desinformação como as que tumultuaram as eleições brasileiras no ano passado.

Na Índia, o mau uso do serviço teve consequências trágicas. Boatos sobre raptos de crianças provocaram uma onda de linchamentos, levando o WhatsApp a adotar em caráter experimental as restrições que agora valem no mundo inteiro.

É bem-vinda a atitude, mas a empresa poderia fazer muito mais para combater o uso mal-intencionado de sua tecnologia. Algumas facilidades oferecidas a seus usuários permitem a difusão de informação em massa mesmo com os novos limites postos em prática.

Um grupo de WhatsApp pode ter 256 participantes, e listas de transmissão permitem que uma mesma mensagem seja enviada de forma simultânea a 256 contatos na primeira vez. Isso aumenta de forma exponencial o alcance de ações maliciosas como as que se multiplicaram no pleito brasileiro.

Com 1,5 bilhão de usuários no mundo, dos quais 120 milhões no Brasil, o WhatsApp ganhou confiança ao garantir a privacidade de suas comunicações com um sofisticado sistema de criptografia. A empresa teme que mudanças drásticas possam arranhar sua imagem e reduzir seu apelo comercial para o Facebook, dono do aplicativo.

Estudos acadêmicos sugerem que a maioria dos grupos do WhatsApp reúne menos de dez pessoas, em geral amigos e familiares. Essa característica ajudou a tornar a ferramenta útil para difundir desinformação, porque a confiança entre seus membros é muito grande.

Mas isso também indica que há espaço para limites mais rigorosos do que os adotados pela empresa. Se o tamanho dos grupos fosse reduzido à metade, aqueles dedicados a fomentar conspirações e notícias falsas estariam entre os mais afetados. A maioria dos usuários talvez não sentisse sua falta.

editoriais@grupofolha.com.br

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