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André Sturm

A raiva contra a Capitã Marvel

Com apoio da população, Belas Artes segue em frente

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André Sturm, diretor do Cine Belas Artes, durante evento em São Paulo em 2018 - Greg Salibian - 5.ago.18/Folhapress

O filme "A Raiva", premiado em muitos festivais, estreou em duas salas na cidade. Uma delas é o Belas Artes. "Capitã Marvel", em 288! Neste fim de semana, se você quisesse ir ao cinema e "Capitã Marvel" não fosse de seu gosto, perderia a viagem indo a um cinema de shopping: 70% das salas exibiam este mesmo filme.

No Belas Artes, em apenas seis salas, há 16 filmes diferentes, do oscarizado "Green Book" a "Um Elefante Sentado Quieto", filme chinês de 4 horas de duração. Também há filmes da França, Itália, Brasil e Polônia. Essa diversidade é uma das razões de receber tanto carinho do seu público.

Foram incríveis a reação e o apoio à notícia de que o cinema perdeu seu patrocínio e que, sem este, teria dificuldades de permanecer aberto. De outro lado li alguns comentários, pretensamente liberais, que denotam total desconhecimento do tema.

Vamos lá: dinheiro público. Para reabrir o cinema, foram necessários mais de R$ 7 milhões. Todo esse recurso foi privado. A Prefeitura teve papel fundamental em reaproximar o proprietário do imóvel e em conseguir o patrocínio da Caixa. Não houve um centavo da Prefeitura.

Um cinema tem desvantagem em relação a outras atividades comerciais. Imagine uma loja de departamentos no mesmo espaço. A cada metro quadrado uma gôndola com produtos. O cinema precisa de áreas de circulação, espera, banheiros. Isso faz com que o rendimento por metro quadrado seja muito menor. Por isso não consegue cobrir o valor pago por outros negócios. Mas aí alguém diz: "os cinemas de shopping não precisam de patrocínio". Erro! 

Estes são "patrocinados" pelas demais lojas. Como são âncoras, pagam de aluguel valores muito menores que os demais empreendimentos. No nosso caso, somos um empreendimento isolado, que precisa arcar com todo seu custo. Por esse motivo a necessidade de um patrocínio. Tenho muita gratidão pela Caixa nos ter apoiado nesses 4 anos. Nunca teve uso de Lei Rouanet. Foi uma ação de marketing, como quando a Caixa patrocina um time de futebol ou faz um anúncio na TV.

No nosso caso, existiam contrapartidas bastante valiosas. Em 2018, só com geração de mídia espontânea, o valor foi de R$ 6,6 milhões. Anúncio nas sessões, desconto para clientes, marca na fachada do cinema. E ainda a valorização da marca por patrocinar um cinema tão relevante. Na avaliação das salas de São Paulo pelo Guia da Folha deu Belas Artes: Melhor Programação, Atendimento e Cinema de Rua. Não é pouco numa cidade com tantos cinemas. 

Fomos o primeiro cinema da cidade a eliminar o vidro na bilheteria, aproximando o público da equipe; temos o Noitão; filmes com longa permanência; 57 filmes brasileiros em 2018; o ingresso mais barato; a fidelidade do público faz do cinema um dos ícones afetivos da cidade.

Quantas amizades e namoros começaram naquelas cadeiras? No último domingo, fãs distribuíram corações no cinema. O Belas Artes seguirá em frente. Com o apoio da população e das empresas!

André Sturm

Cineasta, é ex-secretário municipal de Cultura de São Paulo (jan.17 a jan.19)

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