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No debate sobre alfabetização, desenho de nova orientação de política pública assumiu tons perigosamente ideológicos

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O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez - Pedro Ladeira/Folhapress

No crucial debate sobre o processo de alfabetização no Brasil, o desenho de uma nova orientação de política pública assumiu tons perigosamente ideológicos. 

O esboço do decreto da Política Nacional de Alfabetização, ao qual esta Folha teve acesso, privilegia o chamado método fônico. Por essa abordagem, a criança se atenta à relação entre letras e sons para, depois, chegar à leitura.

Atualmente, é ampla nas instituições de ensino brasileiras a influência da orientação construtivista —pela qual se trabalha a familiarização dos alunos com textos inteiros, que façam sentido em sua experiência cotidiana.

Até aqui, o Ministério da Educação vinha se pautando pela defesa do uso de mais de uma estratégia. Faz sentido, dada a necessidade de ensinar os mais novos e quase 12 milhões de adultos que não sabem ler ou escrever. 

Estudiosos do tema, como de costume, encontram argumentos em favor do método global, construtivista, e do fônico. A combinação deles tem sido adotada em países como os EUA, que, há algumas décadas, viviam algo que ficou conhecido como “guerra de alfabetização”.

A disputa, de certa maneira, parece chegar com atraso ao cenário brasileiro. Aqui, no entanto, ela ainda se mostra distante da avaliação das condições objetivas que podem levar à melhoria dos resultados dos estudantes.

O destaque ao método fônico está associado, tudo indica, ao trecho do programa de Jair Bolsonaro (PSL) que promete modernizar a educação “expurgando a ideologia de Paulo Freire” —nome que se tornou referência do construtivismo e alvo de setores adversários do que chamam de doutrinação esquerdista em sala de aula.

Não contribui para um debate objetivo, decerto, o fato de que o MEC está mergulhado em profunda crise sob o comando —se é que o termo se aplica— de Ricardo Vélez Rodríguez e em meio a conflitos por poder entre ideólogos, militares e técnicos da área.

Exames de desempenho mostram que metade dos alunos brasileiros tem nível insuficiente de leitura no 3º ano da escola. A Base Nacional Comum Curricular, aprovada em 2017, define que a alfabetização das crianças deve ocorrer até o 2º ano do ensino fundamental.

Não se duvida das deficiências da educação do país nem dos méritos do método fônico. O governo acerta, ademais, ao incluir o assunto entre as 35 metas para os cem primeiros dias da gestão. A política para um setor tão vital, entretanto, não pode se amparar em preconceitos e revanchismos.

editoriais@grupofolha.com.br

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