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Brexit a fórceps

Premiê suspende atividades do Parlamento e saída da UE pode ser mais turbulenta

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O primeiro-ministro Boris Johnson e a rainha Elizabeth 2ª - Reuters

Faltando apenas dois meses para o fim do prazo acordado para o brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, deflagrou uma crise política ao operar a suspensão das atividades do Parlamento por cinco semanas.

Embora a medida esteja prevista no sistema parlamentarista do país, com a função de iniciar uma nova sessão legislativa, o prazo solicitado por Johnson à rainha —o mais longo desde 1945— deixa clara a controversa intenção do premiê.

Trata-se de comprimir o tempo que os membros da Câmara dos Comuns terão para buscar uma ruptura negociada com a UE e, assim, evitar que o Reino Unido deixe o mercado europeu e a união alfandegária de modo brusco e caótico, movimento visto como potencialmente desastroso para a economia. 

Desde que assumiu o comando do governo, no final de julho, o líder conservador mantém um discurso duro quanto às condições do divórcio e insiste em uma saída britânica com ou sem acordo. A maioria dos deputados, porém, é contrária à opção mais radical.

Não à toa, a manobra gerou críticas acerbas. John Bercow, presidente da Câmara, figura tradicionalmente neutra em questões políticas, tachou a medida de “afronta constitucional”. O líder da oposição, Jeremy Corbyn, chamou-a de ameaça à democracia.

Johnson alega que pretende apenas preparar um novo discurso da rainha —proferido na abertura do ano legislativo— para dar início a sua “ousada e ambiciosa agenda legislativa doméstica”.

Com a prorrogação parlamentar, a tensão política deve acirrar-se. O Legislativo, que retorna das férias de verão em 3 de setembro, pode tentar passar uma lei que interdite um brexit não pactuado, ou até votar uma moção de desconfiança contra o primeiro-ministro.

Mesmo que tal voto seja aprovado, entretanto, Johnson deve permanecer no cargo até que outro governo obtenha a maioria necessária, o que está longe de ser automático. Sem isso, o conservador ficaria no cargo até a realização de novas eleições, que dificilmente ocorreriam antes de 31 de outubro, data limite da saída da União Europeia. 

Seja qual for o desfecho do imbróglio, a arrastada novela do brexit parece ter reservado para o final seus momentos mais tensos.

editoriais@grupofolha.com.br

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