A seu estilo, Donald Trump encerrou de forma súbita a frágil trégua comercial com a China que se mantinha desde o final de junho. Nas mídias sociais, o presidente americano anunciou que a partir do início de setembro poderá taxar em 10% mais US$ 300 bilhões em importações anuais do país asiático.
Se levada a cabo, a nova rodada de tarifas será somada aos 25% já cobrados sobre outros US$ 250 bilhões em compras. Desta vez, no entanto, espera-se impacto maior na inflação, pois a medida atingiria mais os bens de consumo.
Uma ampla gama de artigos, de celulares a brinquedos, ficará mais cara para o consumidor dos Estados Unidos, a não ser que os fornecedores chineses baixem os preços para não perder mercado.
A ameaça foi recebida com protestos por Pequim, que apontou má-fé e falta de ética do lado americano, uma vez que os dois países estão em processo de negociação.
Incapaz de retaliar com as mesmas armas, dado que importa muito menos, o governo chinês decidiu permitir que a cotação de sua moeda superasse, pela primeira vez desde a crise econômica global de 2008, a barreira de 7 ante o dólar.
A atitude provocou enorme susto nos mercados financeiros —que passaram a temer uma desvalorização abrupta do yuan, com impacto dramático sobre o comércio e as finanças globais.
No mesmo dia, despencaram os índices das Bolsas de Valores e as cotações de moedas de países emergentes em geral. No Brasil, o dólar voltou a se aproximar de R$ 4, a despeito das expectativas favoráveis para a tramitação da reforma da Previdência Social.
Cresce a dúvida, ademais, quanto à perspectiva de retomada do crescimento econômico mundial, após quase um ano de desaceleração.
A maior parte dos bancos centrais dos países desenvolvidos já vinha reconhecendo os riscos e indicando juros menores adiante.
Nos Estados Unidos, o Fed cortou os juros em 0,25 ponto percentual em julho, para o intervalo de 2% a 2,25% ao ano, e atitude similar é esperada em breve de seu congênere europeu. Busca-se sustentar a atividade, que se mostra frágil nas principais praças.
Mesmo assim, Trump não cessa de criticar a postura da autoridade monetária de seu país, que considera austera demais —ele gostaria de taxas ainda menores para facilitar a reeleição no ano que vem.
Por esse motivo, levantaram-se suspeitas entre analistas de que o endurecimento com a China esteja associado a uma pressão sobre o Fed. Desnecessário apontar que uma estratégia desse tipo acarretaria o risco de, no limite, jogar o mundo em uma nova recessão.
Se a China até agora não aceitou negociar de forma ampla, difícil imaginar que mais ameaças surtirão efeito. Fato é que um acordo entre as duas grandes potências vai ficando cada vez mais difícil.
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