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Márcia Barbosa da Silva e Gabriela Borges

Alfabetização midiática na educação básica

Domínio da tecnologia não garante competência

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Crianças usam internet na escola
Alunos usam internet em escola de Pacaraima, em Roraima - Divulgação/Viasat
Márcia Barbosa da Silva Gabriela Borges

A literacia, ou alfabetização midiática, “abrange a capacidade de compreensão de interpretação e produção de textos e imagens, e entender como as mídias podem influenciar a liberdade de expressão, o desenvolvimento, a democracia, a boa governança e a percepção dos eventos que afetam seus cotidianos” (Unesco, 2016, pág. 1).

Desde o surgimento das mídias sociais, começaram a se desenvolver estudos acerca da influência da mídia sobre a infância. Mas foi somente em 1982, a partir da Declaração de Grünwald, chancelada pela Unesco, que a literacia midiática deixou de ter um caráter fragmentado e passou a ter mais organicidade e visibilidade em nível internacional. 

A declaração já preconizava a introdução de estudos sobre literacia midiática na escola, na formação de professores e também nas pesquisas universitárias para o aprimoramento teórico-metodológico na área. Outras declarações referendaram e ampliaram a de Grünwald; no entanto, foi apenas neste século que a alfabetização midiática tornou-se parte de currículos europeus, embora já houvesse experiências de êxito no Canadá, por exemplo.

A partir daí foram realizadas investigações com o intuito de estabelecer parâmetros de avaliação de competências midiáticas para auxiliar o trabalho docente. Dentre essas pesquisas destaca-se a liderada pelo espanhol Joan Ferrés, que consultou investigadores de diferentes países sobre quais seriam as dimensões das competências midiáticas.

Posteriormente, publicou com Alejandro Piscitelli um artigo no qual atualizou esse trabalho, apresentando as seguintes dimensões: linguagem, tecnologia, produção e difusão, ideologia e valores e processos de interação e estética. Cada dimensão apresenta dois grupos de indicadores: de análise (interpretação e compreensão) e de expressão (elaborar mensagens ou atuar criticamente a partir do contato com a mídia).

A dimensão “tecnologia” abrange o conhecimento sobre os meios tecnológicos disponíveis para obter determinado efeito e a capacidade de manejar as ferramentas midiáticas para a elaboração de uma mensagem. A dimensão “linguagem” diz respeito à capacidade de análise dos elementos da linguagem midiática e saber utilizá-los para construir suas mensagens. Já a dimensão “processos de interação” trata da interação com outras pessoas por meio da mídia, do conhecimento e utilização de medidas de proteção e formas de denunciar abusos cometidos contra si ou contra outras pessoas. Os processos de “produção e difusão” se referem aos conhecimentos sobre as formas de produção e o respeito aos direitos autorais.

A dimensão “ideologia e valores” abrange a identificação das ideologias e valores presentes nas mensagens midiáticas e, ao mesmo tempo, ser capaz de expressar valores sociais e democráticos que promovam a humanização. Finalmente, a dimensão “estética” trata tanto da identificação de padrões estéticos bem como da expressão de formas estéticas próprias ou inovadoras.

Essas dimensões auxiliam os professores a identificar os níveis de competência midiática de seus alunos, possibilitando uma ação educacional mais precisa. O educador deve ter em mente o papel da literacia midiática na formação dos alunos. Ao contrário do que se imagina, a literacia midiática não acontece somente colocando os estudantes em contato com as mídias/TIC (Tecnologias da informação e comunicação). 

O acesso é importante, mas não suficiente para o desenvolvimento das competências midiáticas. De fato, as pesquisas apontam que ter domínio da tecnologia não garante ser competente nas outras dimensões. Pelo contrário, o grande acesso às tecnologias indica a urgência em fomentar processos educativos de desenvolvimento de todas as dimensões de competência midiática desde a educação básica.

Márcia Barbosa da Silva

Professora doutora em educação do Departamento de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR) e integrante da Rede Interuniversitária Euroamericana de Investigação (Alfamed)

Gabriela Borges

Professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), doutora em comunicação e semiótica e coordenadora da seção brasileira da Alfamed

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