A comunidade acadêmica aguarda ansiosa o resultado da consulta pública, encerrada em agosto, sobre o Future-se, lançado em 17 de julho pelo Ministério da Educação e voltado a fortalecer a autonomia administrativo-financeira das universidades e institutos federais, com foco em três eixos: governança, gestão e empreendedorismo; pesquisa e inovação; e internacionalização do ensino superior. Espera-se que boas ideias o aperfeiçoem e que o governo esclareça alguns pontos geradores de ceticismo.
A consolidação do programa seria muito positiva, em especial se resultasse no fomento da inovação, na qual ocupamos o 66º lugar dentre 129 nações. Descemos duas posições no novo ranking de Inovação da Organização Mundial de Propriedade Intelectual. Em contrapartida, a pesquisa científica brasileira é relevante. Estamos no 13º posto quanto ao volume de publicações de produção científica, que é desproporcional, porém, à baixa apropriação do conhecimento para o desenvolvimento de produtos e processos.
Se diminuir a lacuna entre esses dois indicadores, que nos posiciona no 72º lugar em termos de competitividade global, o Future-se pode acarretar muitos benefícios. Para isso, é pertinente o item relativo à criação de ecossistemas de inovação e empreendedorismo. Estes, a meu ver, devem ser estruturados sobre um tripé: o governo, apoiando a pesquisa básica; as universidades, produzindo conhecimento e dialogando com os setores industrial e de serviços; e estes, demandando conhecimento e financiando a pesquisa aplicada e as etapas de desenvolvimento para a inovação.
Deve-se, ainda, simplificar a transferência de conhecimento das universidades às empresas e à sociedade, incluindo a remuneração direta das instituições e docentes, como propõe o Future-se. Seria um avanço justo e relevante! É preciso, também, estimular o empreendedorismo dos alunos e o fomento de startups. A MP da Liberdade Econômica deve contribuir para isso.
O Future-se, ao fomentar a integração entre academia e empresas, quebra a cultura de distanciamento existente no Brasil, que limita o aproveitamento do potencial tecnológico-científico das universidades. Embora voltado ao setor público federal, também interessa às instituições de ensino superior privadas (IES), responsáveis pelo maior contingente de universitários no país (75,3% das matrículas). Estas, em especial as comunitárias e confessionais, têm grande tradição em pesquisa e desenvolvimento e precisam enxergar-se no programa.
O projeto é positivo, mas precisa consolidar-se sobre normas claras. O primeiro aspecto a ser esclarecido é que não deve ser visto como alternativa de solução ao financiamento público das universidades federais. Outra questão refere-se ao papel das organizações sociais. O texto original refere-se à possibilidade de sua contratação, mas não especifica como isso ocorreria. Há de se considerar, ainda, que muitas IES já têm fundações de apoio à pesquisa e que precisam ser consideradas no contexto.
Esperamos que o Future-se realize-se com pleno êxito. Afinal, as universidades brasileiras estão sedentas por serem reconhecidas de modo amplo como produtoras de conhecimento e por sua capacidade de contribuir para a geração da inovação e, consequentemente, ascensão socioeconômica.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.