Descrição de chapéu

Borduna na Carta

São preocupantes os flertes confusos de Bolsonaro com atitudes autoritárias

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O presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto - Adriano Machado/Reuters

O estilo autêntico, para usar uma expressão cultivada nos círculos situacionistas, do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobressaiu mais uma vez na conversa que travou com esta Folha na manhã da terça (3).

A resistência da Polícia Federal às tentativas de intrusão em nomeações de escalões inferiores, responsáveis por investigações envolvendo familiares do presidente, foi tachada pelo mandatário de “babaquice”. Sua intenção, afirmou, seria apenas a de dar uma “arejada” no comando daquela organização.

Ao ministro Paulo Guedes, outrora reverenciado como uma enciclopédia pelo chefe, sobrou a pecha de “chucro” na política. O titular da Economia também foi alertado para o risco de “tomar porrada” do presidente caso não apresente compensações convincentes para a sua obsessão por fazer reencarnar alguma forma de CPMF.

Outro que assumiu sob a expectativa de acumular superpoderes, embora sistematicamente solapado pelo presidente desde então, Sergio Moro foi qualificado de “ingênuo”. O ministro da Justiça, segundo Bolsonaro, seria rechaçado no Senado caso fosse indicado para o Supremo Tribunal Federal.

As farpas contra a correligionária e líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, atingiram a pretensão da deputada de disputar a prefeitura paulistana com o apoio de Bolsonaro, que a acusou de ter “um pé em cada canoa”.

Tratou-se de uma crítica indireta às movimentações do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), cujas simpatias políticas pela parlamentar do PSL são notórias, apesar de ele estar obrigado a apoiar eventual recandidatura do atual prefeito, o tucano Bruno Covas.

Mas, como o estilo presidencial não parece combinar com sutilezas, Bolsonaro também mandou um recado direto a Doria: o desejo do governador de disputar o Palácio do Planalto em 2022 não passaria de uma “ejaculação precoce”.

A esta altura, parece claro que o chefe de Estado não quer mudar a conduta. Amanheceu nesta quarta (4) ofendendo a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, o que causou novo incidente diplomático.

Os prejuízos do destempero verbal —que envenena o ambiente da disputa política, perturba o dos negócios e deprecia a imagem do Brasil— são profundamente lamentáveis. Mas, quando ele ameaça romper diques da Constituição, aí tem-se bem mais que algo a lamentar.

“Se eu levantar a borduna, todo mundo vai atrás de mim e eu não fiz isso ainda”, disse o chefe do Executivo na conversa com a Folha. Espera-se que não tenha refletido suficientemente, como costuma acontecer, a respeito da bravata autoritária que deixou solta no ar.

A Carta não oferece bordunas ao governante. Manda impedir qualquer um que tente erguê-las contra o edifício do Estado de Direito.

editoriais@grupofolha.com.br

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