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Dependência mútua exige relação pragmática entre Fernández e Bolsonaro

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O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, faz o sinal da vitória - Juan Mabromata/AFP

Desde as primárias argentinas realizadas em agosto, quando Alberto Fernández conquistou vitória expressiva sobre o presidente Maurício Macri, já se esperava que o primeiro triunfasse sobre o segundo no pleito de domingo (27).

O prognóstico, com efeito, confirmou-se, embora a diferença (48% a 40,5%) entre os dois, significativamente menor do que apontavam as pesquisas, indique que a intensa campanha do atual mandatário nas últimas semanas surtiu efeito.

O esforço não se mostrou suficiente para reverter o desgaste decorrente da ruína econômica dos últimos dois anos. Eleito com uma agenda de reformas liberais e ajustes após 12 anos de intervencionismo dos governos Kirchner, Macri entrega um país em muitos aspectos pior do que recebeu.

O PIB encolheu 2,5% em 2018, e a recessão se mantém neste ano. A inflação ronda os 55% ao ano, e o índice de desemprego alcançou 10,6% no segundo trimestre. Tais fatores contribuíram para o aumento substancial da taxa de pobreza. Hoje, cerca de 35% da população encontra-se nessa situação, e 7,7% são considerados indigentes.

Amenizar esse cenário crítico constitui o principal desafio do próximo mandatário argentino, que terá como seu vice nada menos que a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015). 

Assim, a grande incógnita reside em saber se o governo Alberto Fernández será uma continuação do ciclo kirchnerista, marcado por políticas populistas como congelamento de tarifas e subsídios, ou se representará uma nova etapa para o país, em que previsíveis medidas de cunho social se combinarão a uma gestão responsável.

A recuperação da Argentina também interessa ao Brasil, que tem no vizinho seu principal comprador de produtos manufaturados. A crise afetou a balança comercial entre os dois países e, entre janeiro e julho, as exportações argentinas caíram cerca de 40% em relação ao mesmo período do ano passado.

No front bilateral, espera-se ainda a distensão das relações entre Fernández e o presidente Jair Bolsonaro.

O brasileiro, após tentativas lamentáveis de interferir no pleito do país vizinho em favor de Macri, se negou a cumprimentar o novo presidente pela vitória.

O argentino, por sua vez, aplicou predicados duros a Bolsonaro e, numa  provocação, posou no domingo fazendo o sinal de apoio ao movimento Lula Livre —que o brasileiro classificou como uma afronta.

A dependência comercial, a proximidade geográfica e os vínculos históricos entre os dois países fazem com que um não possa prescindir do outro. Que as diferenças ideológicas de agora deem logo lugar a uma relação pragmática e benéfica às duas nações.

editoriais@grupofolha.com.br

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