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Paulo Sergio Niemeyer

Legado de Niemeyer à mercê da politicagem

Plano diretor é vital para a concessão do Ibirapuera

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Paulo Sergio Niemeyer

Não é surpresa o meu apoio à concessão dos parques públicos de São Paulo, em especial à do parque Ibirapuera, muito em conta do que representa à população e ao país —e, principalmente, pelo patrimônio arquitetônico ali presente, que é um legado histórico aos paulistanos e uma lembrança afetuosa do trabalho de meu bisavô.

O parque Ibirapuera conecta as pessoas. É um espaço fantástico, com potencial para estar à altura dos melhores parques urbanos do mundo. Um local multifuncional: de lazer, cultura, arte, esporte e com vitais funções ambientais e pedagógicas. Principalmente, um espaço público onde os visitantes se reconectam consigo mesmos, com a natureza e com a história da metrópole. Local, portanto, de exercício da cidadania. Esteticamente, é um belíssimo marco na paisagem urbana: uma ilha verde no cinza paulistano.

Paulo Sergio Niemeyer e o avô, Oscar Niemeyer - Paulo Sergio Niemeyer é arquiteto, urbanista e renomado designer brasileiro. Filho da arquiteta Ana Elisa Niemeyer, neta de Oscar Niemeyer, Paulo é o seu único bisneto formado em arquitetura. Sua atuação na área já data mais de 20 anos. Junto de seu bisavô, abriu o Instituto Niemeyer de Políticas Urbanas e Culturais, em 2010. A vocação descoberta quando muito jovem, foi apurada ao longo do tempo, enquanto colaborava no desenvolvimento de projetos de Niemeyer realizados em muitas cidades brasileiras como aqueles construídos no Caminho Niemeyer em Niterói/RJ, Torre de Natal em Natal/RN , o Auditório São Paulo no Parque do Ibirapuera, em São Paulo/SP, Memorial Luis Carlos Prestes, em Porto Alegre/RS, entre outros e no exterior a exemplo o Sede do jornal L’humanité - Saint-Denis – França. Não faltam “afinidades eletivas” entre Oscar e Paulo Niemeyer: a compreensão de que arquitetura é invenção, a procura de novas formas de comunicação visual, a preocupação em harmonizar espaços cheios e vazios, a eleição pelas curvas, torna seu bisneto o herdeiro das curvas de Niemeyer.
O arquiteto Paulo Sergio Niemeyer e o bisavô Oscar Niemeyer observam desenho - Divulgação

Por tudo o que representa, o Ibirapuera não pode ficar suscetível aos mandos e desmandos de governos provisórios, com agendas particulares. É desejável uma gestão mais ampla e contínua, que priorize os investimentos como foco na melhoria do serviço público e conservação do patrimônio cultural e ambiental. 

Uma gestão pensada para manter a essência do local, sem perder de vista o dinamismo da sociedade, as tendências contemporâneas e as novas demandas dos visitantes. O projeto de concessão pode representar essa chance pelas próximas décadas.

Temos, hoje, a possibilidade inédita de um plano diretor do parque ser aplicado na prática, visando garantir a ocupação sustentável dos espaços e a valorização do patrimônio. Um plano que integrará a concessão e dará orientações às atividades e intervenções da futura gestão. A concessionária terá de anuir com o plano diretor e se pautará por ele, tendo de cumpri-lo, algo que a administração pública sempre tratou de relegar em relação aos planos anteriores.

Há, na minuta apresentada pela prefeitura, diretrizes claras e específicas, colocadas em horizontes temporais para serem implantadas. Por exemplo, ações para melhorar a acessibilidade ao parque, o restauro da sinuosa marquise e a garantia de manutenção das áreas verdes com aumento de permeabilidade, entre outras. Não obstante, guiados por interesses e opiniões particulares, alguns grupos e políticos se opõem ao plano diretor porque sabem que sua inconclusão poderá frear o processo de concessão em si.

O que não enxergam é que a concessão, além de desonerar a prefeitura, que não tem recursos para a manutenção dos parques, possibilitará uma gestão continuada e integrada, permitindo a preservação do meio ambiente e da paisagem, a requalificação e a conservação dos equipamentos tombados, além de garantir maior acessibilidade, mobilidade e segurança.

O fim do processo de concessão por motivos políticos será um retrocesso e irá onerar o interesse público, deixando diretrizes de melhor ocupação do espaço, ações e orientações que visariam a melhoria do serviço público e a conservação do patrimônio arquitetônico apenas no papel —mais uma vez.

Paulo Sergio Niemeyer

Arquiteto, urbanista e designer; fundou, ao lado do bisavô Oscar Niemeyer, o Instituto Niemeyer de Políticas Urbanas e Culturais (2010)

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