Para aprofundar uma discussão que acredito ser fundamental em nossas vidas, e mais ainda quando falamos de diversidade e inclusão, acabei de criar uma síndrome nova —sem nenhum rigor científico, claro, mas com o objetivo único de tornar esse debate um pouco menos complexo.
Ressalto que uma síndrome vem do conjunto de sinais e sintomas observáveis em vários processos patológicos diferentes e sem causa específica. Mas você se lembra da “Modinha para Gabriela”, de Dorival Caymmi, com o seu refrão marcante? “Eu nasci assim. Eu cresci assim. Eu sou mesmo assim. Vou ser sempre assim. Gabriela, sempre Gabriela.”
Pois é, talvez seja esta a questão central da diversidade nas grandes corporações. Então, quero demonstrar para quem sempre fez igual, e aparentemente obteve bons resultados, o valor de fazer diferente. O valor de compor um quadro funcional com pessoas diferentes, de origens diferentes, com pensamentos e marcadores identitários diferentes.
As pessoas estão sempre dizendo que gostam de mudança, que buscam o novo, o dinamismo, as inovações etc. Mas a verdade, como diria Mario Sergio Cortella, é que “gostamos de tudo isso desde que sejam as mudanças que nós esperamos e almejamos. Aquelas que nos satisfaçam de alguma forma”.
Quem quer, de fato, mudanças? Qualquer uma, mesmo aquelas que não esperávamos, como um término de namoro, a substituição de um líder querido ou a troca de um grupo de trabalho? Pois é, lidar com a mudança não programada geralmente incomoda, demanda algum esforço. Às vezes há certa relutância até quando a mudança é para melhor.
Pois bem, imagine quando falamos em um ambiente corporativo —cuja liderança é majoritariamente branca e masculina— que pretendemos ou vamos trazer mulheres e negros? Algumas pessoas podem literalmente surtar. Outras, de forma educada e polida, dizem que “essas pessoas não têm formação acadêmica suficiente”. E há aquelas que, de forma mais direta e agressiva, explicam: “Mas você não acha que essa parcela da população deixa de estar aqui porque ela mesma não tem coragem, não se esforça?”.
Então o que dizer das Majus, Marielles, Linikers, Tiffanys e tantas outras pessoas que se recusaram a ter a “síndrome de Gabriela” e que mesmo com todos os dilemas e as controvérsias lutaram para chegar lá —e, por vezes, mesmo em momentos de êxito máximo, tiveram que se provar de novo e de novo?
Contribuindo para a mudança de pensamento, tenho um conjunto de respostas. Reflito sobre a responsabilidade individual, sobre o que nos acostumamos a entender como uma sociedade viável. Como normatizamos e normalizamos a ausência de negros nas empresas? A falta de mulheres em reuniões da alta liderança? Como a escassez de pessoas com deficiência e LGBTs passa despercebida no dia a dia?
Mais do que isso, como estamos tão acostumados que, por muitas vezes, lutaremos para manter tais cenários exatamente iguais, ou seja, sem diversidade, porque para muitos de nós é mais cômodo?
Bom, se você tem a “síndrome de Gabriela” vou te contar uma novidade: a 4ª Revolução Industrial chegou.
O mundo sempre mudou, mas nunca tão rápido como agora. A diversidade sempre foi uma realidade, mas nunca como agora. Os dilemas sempre existiram, mas nunca foram tão múltiplos, complexos, constantes como hoje.
Por isso, se para você a mudança é evidente, notável e real, ótimo! Cada vez mais teremos pressão social de grupos que antes estavam fora dos processos corporativos para serem incluídos. E também para que uma vez dentro das empresas tenham oportunidades de ascensão e carreira igualitárias.
O ano acaba em pouco mais de um mês. Há muito para acontecer ainda, mas a certeza que tenho é que Gabriela foi um sucesso, mas passou. O Brasil está mudando e temos que escrever uma nova história.
O futuro com mais diversidade já começou —se você ainda não o está vivenciando, corra! Do contrário, estará sob a inércia de um equívoco ou uma ignorância de achar que sempre foi assim.
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