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Contágio econômico

Coronavírus eleva pessimismo global; no Brasil, tensão política é risco extra

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Imagem do coronavírus fornecida pelo órgão americano Food and Drug Administration - AFP/Food and Drug Administration

Algumas semanas depois do surgimento do coronavírus, o impacto na economia mundial já se mostra mais forte que o inicialmente estimado. Com novos casos a aparecerem fora da China, a hipótese de que o surto pudesse ser rapidamente controlado vai dando lugar a cenários mais sombrios.

Até a semana passada, as atenções se voltavam para o esforço draconiano das autoridades chinesas em conter a epidemia. O relaxamento de restrições à movimentação de pessoas trouxe a esperança de que o PIB do emergente asiático começasse a se recuperar a partir de março, com efeito modesto sobre o restante do mundo.

Entretanto o quadro mudou com o disseminação da infecção para outras regiões —inclusive com a confirmação do primeiro caso no Brasil. Agora, avalia-se que o contágio econômico pode se estender pelo segundo trimestre, com danos mais graves para o fluxo de mercadorias e a renda global.

A interligação das cadeias de produção em todo o mundo constitui elemento de fragilidade adicional, pois a interrupção de atividade numa região rapidamente se transfere para outras. O fato de a crise ter se iniciado na gigante China expôs o fenômeno com ainda mais clareza. 

Um combate eficaz aos impactos recessivos se mostra difícil. Cortes de juros —que já se encontram em nível baixo— e mais gastos públicos não necessariamente produzirão resultados em curto prazo. 

É cedo para uma projeção precisa, mas parece claro que a economia mundial crescerá menos neste ano —e já não é descabido considerar o risco de recessão.

Os mercados financeiros reagiram com quedas abruptas nas Bolsas e fuga para ativos como dólar e títulos do governo americano. 

No Brasil, além do coronavírus, há a moléstia da instabilidade política. O comportamento conflituoso do presidente Jair Bolsonaro piora ainda mais o ambiente econômico já conturbado.

A epidemia global representa um  choque deflacionário para o país. Menos atividade e inflação em baixa deverão manter os juros reduzidos. De todo modo, uma piora mais substancial da atividade pode ter impactos políticos.

Nas últimas semanas as projeções de crescimento já ameaçavam cair abaixo de 2%, e cresciam os ruídos em torno do compromisso de Bolsonaro com a equipe econômica. 

Se esse cenário mais negativo se consolidar, a disposição do Congresso para reformas pode sofrer avarias. Enquanto já se notam pressões crescentes por gastos públicos, o foco do governo deveria ser acelerar a preparação para um cenário mais difícil à frente.

editoriais@grupofolha.com.br

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