Em meio a uma coletânea de indicadores mais positivos nos últimos meses, a indústria continua sugerindo uma recuperação mais comedida. Mais do que dificuldades de curto prazo, é nesse setor que os obstáculos estruturais para o crescimento sustentado da economia se mostram mais evidentes.
A queda da produção em novembro, de 1,2% frente ao mês anterior e 1,7% na comparação anual, certamente tem causas externas, como a crise argentina que derrubou as exportações de automóveis.
Dados da Anfavea, a associação das montadoras, sugerem nova queda da produção em dezembro. Vai se frustrando a contribuição positiva para o PIB que era esperada da indústria no 4° trimestre.
Há notícias positivas em outras áreas, como varejo, construção civil, serviços e na abertura agora mais acelerada de vagas formais. Os juros baixos também devem impulsionar o crédito e favorecer o mercado de capitais.
Tudo isso deve ajudar a puxar a indústria, ainda que de forma gradual. Mas não se pode perder de vista que a produção ainda está 17% abaixo do pico de 2011, evidência de problemas persistentes de competitividade no país.
As causas são muitas e de longo prazo. A despeito (ou por causa) de políticas industriais que se mostraram equivocadas e do protecionismo, excessivo, o setor não acompanhou a revolução tecnológica mundial e permaneceu isolado dos grandes centros de inovação.
Ineficiências domésticas, como no campo tributário, vão se mostrando obstáculos cada vez mais intransponíveis. A indústria é o setor com a mais alta carga de impostos do país, resultado da colcha de retalhos que se transformou a tributação da produção.
Sem uma ampla reforma que simplifique drasticamente as regras e distribua melhor o ônus dos impostos, e de uma estratégia consistente de abertura e absorção de tecnologia, será difícil que o país consiga recuperar o dinamismo industrial.
A indústria concentra empregos de melhor qualidade, dispõe de um legado de tecnologia que pode ser mobilizado e ainda tem um papel a desempenhar no desenvolvimento brasileiro. Para tanto, é preciso que sejam priorizadas as ações com impacto sistêmico, como aumentar a qualidade da educação e favorecer a formação de poupança.
São esses elementos que podem alicerçar a transformação produtiva, não um retorno à agenda de subsídios e fechamento do país.
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