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O PT aos 40

Partido depara-se com a esfinge de Lula, seu maior líder e obstáculo à renovação

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O ex-presidente Lula, durante reunião do diretório nacional do PT - Zanone Fraissat - 17.jan.20/Folhapress

Ao completar 40 anos de fundação nesta segunda-feira (10), o Partido dos Trabalhadores acumula motivos para júbilo, que decerto não serão desperdiçados, mas também para uma reflexão desapaixonada acerca de seus graves desacertos ao longo dessa trajetória, exercício que a sigla tem negligenciado.

A democracia se renova e se fortalece quando demonstra capacidade de absorver, no substrato da representação política, forças emergentes da sociedade. O nascimento e a ascensão do PT cumpriram quase exemplarmente esse papel.

A agremiação tratou de dar voz e organização a parcelas da vanguarda do movimento sindical do país quando a ditadura caminhava para o ocaso. O movimento dos trabalhadores do ABC paulista rompia não apenas com o autoritarismo circunstancial, mas também com o modelo de cooptação estatal inventado sob Getúlio Vargas.

No campo da esquerda, aglutinou ainda intelectuais, profissionais liberais, militantes de organizações marxistas e ativistas na esfera da Igreja Católica. Tornou-se, para toda essa elite que brotava, um canal promissor para a disputa do poder de Estado sob a égide da democracia representativa.

Os cargos eletivos conquistados pelo PT vieram crescendo em escala e importância até que, em 2003, produziu-se um salto quântico com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, depois de três fracassos sucessivos.

Favorecido pelas virtudes da política social e econômica da primeira gestão e pela conjuntura global, seu governo pôde comemorar expressiva redução das taxas de pobreza, associada à valorização do salário mínimo, ao Bolsa Família e à formalização de empregos.

Lula consolidou-se de vez como uma espécie de monarca do PT. O partido lucrava ao entregar-se ao jugo e ao culto de seu líder, mas ao mesmo tempo fechava as portas para a atualização e a autocrítica.

Com dinheiro e popularidade de sobra, e oposição escassa, o embrião oligárquico vingou. Velhos e novos cartórios de trabalhadores e patrões refestelaram-se nas verbas e na proteção do Estado. Empresas amigas e doadoras ganharam contratos multibilionários.

Dogmas fracassados sobre a condução da economia acoplaram-se à aventura do PT no governo para tentar justificar o desmantelo, como se os limites para a expansão da despesa e da dívida públicas tivessem magicamente desaparecido.

A metamorfose petista resultou em corrupção, escancarada no mensalão e na Lava Jato, depressão econômica e derrotas políticas.

Aos 40, perante a esfinge de Lula —ao mesmo tempo seu maior ativo popular e seu mais arraigado obstáculo à renovação—, é com esse legado que o PT terá de lidar.

editoriais@grupofolha.com.br

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