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Ciência de menos

Governo troca sem explicação comando do CNPq, órgão que sofre com corte de verba

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João Luiz Filgueiras de Azevedo, exonerado do comando do CNPq - CNPq

Desde sua fundação, no início dos anos 1950, o CNPq desempenha, com altos e baixos, papel central no apoio à pesquisa científica e tecnológica, bem como no fomento da pós-graduação nacional.

Nos últimos anos, o órgão vem conhecendo um processo de estrangulamento de verbas, com ameaças até à continuidade de parte das mais de 80 mil bolsas de pesquisa que financia.

Mais recentemente, já no governo de Jair Bolsonaro, o conselho perdeu também prestígio dentro do Ministério da Ciência e Tecnologia, ao qual está atrelado. O presidente do CNPq deixou de despachar diretamente com a secretaria-executiva da pasta, e a interlocução passou a ocorrer com uma de suas coordenações.

A demissão abrupta e não explicada de João Luiz Filgueiras de Azevedo, que ocupava a presidência da instituição havia pouco mais de um ano, constitui novo baque.

A mudança de comando, num momento em que o Brasil enfrenta a ameaça do coronavírus, tumultua a gestão de um órgão essencial na coordenação de esforços de universidades e institutos nas pesquisas relacionadas ao Sars-CoV-2.

Azevedo insistia por mais recursos e na defesa da autonomia do órgão. O engenheiro também se posicionou publicamente de forma contrária à proposta de fusão do CNPq com a Capes (agência vinculada ao MEC), ideia aventada no ano passado e que contava com o apoio do ministro Abraham Weintraub, da Educação.

A despeito do momento inconveniente para a substituição, o novo presidente do órgão, o agrônomo Evaldo Vilela, parece ser um nome adequado para o cargo.

Membro da Academia Brasileira de Ciências, ex-reitor da Universidade Federal de Viçosa (MG) e ex-presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais, Vilela possui reconhecida tarimba científica e administrativa.

Assumirá, no entanto, uma instituição com dificuldades crescentes para exercer sua função precípua. Os recursos destinados ao fomento de projetos, que já eram escassos, reduziram-se ainda mais neste ano, passando de R$ 127 milhões para cerca de R$ 80 milhões —valor só obtido após forte pressão da comunidade científica.

São verbas suficientes apenas para arcar com compromissos já assumidos pelo CNPq, não permitindo novos investimentos.

Ao torniquete orçamentário, que atinge praticamente toda a máquina pública, soma-se a hostilidade do governo Jair Bolsonaro perante a educação e o conhecimento, tidos como inimigos ideológicos.

editoriais@grupofolha.com.br

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