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Jamil Haddad

Que país desejamos no futuro?

Setor elétrico não pode abrir mão de recursos para desenvolvimento de pesquisa

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Jamil Haddad

Vivemos em um mundo de transformações cuja dinâmica vai moldando nosso futuro enquanto sociedade e nação —que todos desejamos seja mais próspera do que a atual. O Brasil precisa avançar com investimentos significativos em educação, saúde e ciência, tripé do qual deveria ter se apoiado desde décadas passadas. Em momentos de dificuldades, as decisões tomadas não devem comprometer este futuro!

A atual crise sanitária afeta as empresas, os governos e toda a população. Neste contexto, como falar em futuro se para muitos o hoje é sinônimo de sobreviver e o amanhã talvez possa não chegar?

Torres de transmissão de energia elétrica na zona rural de Brejão, agreste de Pernambuco - Diego Herculano - 9.jun.16/Folhapress

Voltemos ao passado recente para entender o presente.

No passado, o Brasil apresentava um desenvolvimento econômico muitas vezes superior ao da Coreia do Sul e, hoje, ocorre o oposto. No início dos anos 1950, o país asiático, sem as mesmas riquezas naturais do Brasil, tinha um PIB per capita menor que o de muitos países africanos. Hoje, a Coreia é uma das maiores economias do mundo, com forte presença na indústria de manufatura.

Como este país conseguiu tal façanha tendo poucos recursos naturais? A resposta é que, apesar das dificuldades enfrentadas, foram realizados investimentos significativos e constantes, por vários governos, tanto na educação como na pesquisa tecnológica.

Decisões tomadas no passado, cujos reflexos se fazem sentir inclusive no sucesso, até este momento, no enfrentamento da pandemia de Covid-19.

Todos os consumidores brasileiros, ao pagarem suas contas de energia elétrica, contribuem com um pequeno valor para um fundo que financia a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico do setor elétrico além de ações de eficiência energética. São recursos que sustentam, por todo o território brasileiro, inúmeros grupos de pesquisa, alunos de pós-graduação e bolsistas, empresas e instituições tecnológicas, públicas e privadas.

Entre todos os impostos, taxas e encargos que pagamos junto com a energia elétrica que consumimos, provavelmente este é aquele que diretamente contribui para o desenvolvimento de nossa pesquisa e ciência.

Mas, apesar da maior parte da sociedade provavelmente não conhecer tal fato, para a manutenção e correto destino desses recursos tem-se, além do respaldo do contrato de concessão, a lei nº 9.991/2000.

As empresas do setor elétrico também estão passando por dificuldades, decorrentes da redução do consumo de energia e de um provável aumento da inadimplência de seus clientes. Deve-se, portanto, buscar soluções para tais empresas.

As distribuidoras de energia, porta de entrada da arrecadação do setor, sentirão esse impacto. Para reduzi-lo, estuda-se destinar a elas, pelos próximos cinco anos, parte significativa desses recursos de pesquisa e eficiência energética.

Será esta a melhor solução? Além da falta de materiais e equipamentos, perde-se a estrutura e a continuidade dos trabalhos —sem falar do investimento nacional na formação e capacitação técnica dos pesquisadores. São perdas que não se recuperam!

A agência reguladora Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que desempenha papel importante no setor elétrico e é responsável pela regulamentação da aplicação destes recursos, com certeza saberá atuar no sentido de assegurar um melhor futuro para nosso país.

Jamil Haddad

Engenheiro eletricista e doutor pela Unicamp, é professor da Universidade Federal de Itajubá-MG (Unifei) e pesquisador do Centro de Excelência em Eficiência Energética (Excen)

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