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Índios sob ameaça

Coronavírus tende a ter efeito devastador entre indígenas, sob inação do governo

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Comunidades indígenas recebem doações de recursos para produção de máscaras contra o coronavírus
Comunidades indígenas recebem doações de recursos para produção de máscaras contra o coronavírus - Divulgação/Rede Kunhã Asé/Delas para Todxs

Uma tragédia em potencial se configura com o avanço do novo coronavírus em terras indígenas, associado à inação do governo Jair Bolsonaro e à histórica precariedade de acesso à saúde desses povos.

Trata-se, em primeiro lugar, de uma batalha por números, como tem sido praxe no país durante a pandemia. Compilados no boletim epidemiológico da Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, dados oficiais apontam até sexta-feira (12) para 97 mortes por Covid-19 e 2.749 casos confirmados em todo o país.

Entidades indígenas discordam desse quadro. Com base em números coletados diretamente das populações, o Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena e as organizações da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil registraram, até quinta (11), 272 óbitos.

As estatísticas oficiais padecem de problemas evidentes como subnotificação por falta de testes —e por não contabilizarem propriamente indígenas fora de terras homologadas, no contexto urbano e em áreas mais afastadas. Urge aperfeiçoar os registros para orientar a condução da política pública.

Tal mapeamento, em parte, já foi feito. Estudo do Instituo Socioambiental e da UFMG propôs em abril um modelo para calcular a vulnerabilidade de povos indígenas ao coronavírus. Concluiu-se que comunidades perto do centro de São Paulo e as de povos ianomâmi em Roraima e no Amazonas são as mais ameaçadas.

Medidas de autoproteção adotadas pelas populações, como barreiras sanitárias, esbarram no avanço do garimpo ilegal e na expansão da fronteira agrícola, impulsionadas pela omissão da política ambiental do governo Bolsonaro.

Outro estudo do ISA e da UFMG mostra um cenário alarmante em especial para os ianomâmi: o entra e sai de garimpeiros em suas terras coloca em risco de infecção por Covid-19 40% da comunidade, ou cerca de 5.600 indígenas.

Além de melhores dados, faz-se necessário fortalecer as estruturas dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, do Ministério da Saúde, para atendimento específico da doença, bem como o fornecimento de testes e equipamentos adequados para suporte respiratório e a contratação temporária de agentes de saúde qualificados.

Difícil alimentar algum otimismo, porém, tratando-se de um governo que ao mesmo tempo nega a gravidade da pandemia e conduz uma política anti-indigenista.

editoriais@grupofolha.com.br

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