Descrição de chapéu

Aberto às armas

Bolsonaro facilita importações, sem ter feito o mesmo para outros setores

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Arma exposta na LAAD Defense e Security 2019, no Rio - Erbs Jr. - 3.abr.19/FramePhoto/Folhapress

“É escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado”, bradou Jair Bolsonaro na famigerada reunião ministerial de 22 de abril deste ano, cujo conteúdo veio a público em vídeo. Nessa seara, o presidente não pode ser acusado de abandonar os compromissos de campanha.

Trata-se, cumpre apontar, de pauta francamente minoritária na sociedade. Conforme apurou o Datafolha em maio, 72% dos brasileiros rejeitaram a tese armamentista de Bolsonaro —que, no entanto, persiste na agenda do governo.

Na quarta-feira (9), o mandatário anunciou resolução para zerar, a partir de janeiro, a alíquota de importação de revólveres e pistolas, hoje de 20%. Trata-se de mais uma medida infralegal para ampliar o acesso da população a armas e munições. As canetadas presidenciais miram o Estatuto do Desarmamento, em vigor desde 2003.

A ofensiva tem sido eficaz. A título de exemplo, de janeiro a maio deste ano, houve alta de 24% na venda de cartuchos, em comparação ao mesmo período de 2018.

A nova medida causou mal-estar entre a indústria nacional e o Palácio do Planalto —entidades como a Associação Brasileira de Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde) reclamaram. No Brasil, o poderoso setor de defesa e segurança emprega 1 milhão de pessoas e movimenta 4% do Produto Interno Bruto, estima-se.

É curioso notar que, para o restante das atividades econômicas, pouco ou nada se viu da ambiciosa abertura às importações prometida pelo ministro Paulo Guedes. O caso das armas é peculiar.

São conhecidas as relações entre o clã presidencial e empresas internacionais do setor. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse, em junho deste ano, que é a favor da entrada de “qualquer empresa [de armas] no Brasil”.

O governo liberou em maio do ano passado, ademais, licenças automáticas de importação de armas, munição e quaisquer produtos controlados pelo Exército.

Maior acesso legal a armas alimenta o mercado ilegal, segundo especialistas ouvidos pela Folha. Com mais artefatos disponíveis no país, há maior possibilidade a médio e longo prazos de que estes migrem para as mãos do crime organizado e das milícias.

Estudos científicos também relacionam o maior acesso a revólveres e pistola ao aumento dos riscos de homicídio e suicídio.

A estratégia bolsonarista, no entanto, guia-se por não mais que ideologia e propaganda política, associadas, na pior hipótese, a interesses econômicos localizados.

editoriais@grupofolha.com.br

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