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Reação do Facebook à regulação comprova dianteira da Austrália nesse front

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Página da ABC News vista na Austrália, sem seu conteúdo noticioso - Lukas Coch/Reuters

Desenvolve-se na Austrália o mais recente capítulo da conturbada relação entre Facebook e jornalismo.

Um projeto de lei obriga as empresas de tecnologia a remunerar os produtores de conteúdo, antiga reivindicação do setor. Em reação, o Facebook bloqueou todos os posts jornalísticos no país de 25 milhões de habitantes. Pessoas de fora da Austrália tampouco podem ver pela rede a mídia de lá.

Já o Google fez opção distinta e fechou acordos para remunerar empresas do setor. O Facebook argumenta que sua relação com as empresas jornalísticas difere da mantida pelo buscador. Na rede social, diz, os veículos publicam voluntariamente. Isso não é verdade: ser indexado pelo Google também é uma escolha de cada site.

O fato é que o conteúdo jornalístico beneficia as empresas de tecnologia, que ganham lucrativa atenção de seus usuários ao distribuí-lo. Elas fingem não pertencer ao terreno da mídia para não terem de arcar com as responsabilidades e custos envolvidos no ciclo do jornalismo profissional.

O episódio reforça a má impressão que o Facebook tem deixado em suas ações. Mostra-se seguidamente uma empresa pouco confiável e errática. Afirma valorizar o jornalismo, mas age em sentido contrário. Ao atuar contra fake news, faz as vezes de uma espécie de censora, proibindo previamente a manifestação de pessoas.

Houve durante muito tempo demasiada condescendência com as políticas adotadas pela rede social. Ao mesmo tempo em que se recusa a enfrentar seu problema com o jornalismo, o Facebook financia pesquisadores e entidades que promovem o debate público da área. Isso tem cada vez menos efeito.

A Austrália mantém-se na vanguarda mundial ao frear o poder das grandes empresas de tecnologia, que viveram à margem de regulação e estabeleceram excessiva dominação de mercado. O Canadá caminha na mesma direção. É desejável que outros países, como o Brasil, avancem nesse sentido.

No caso australiano, o banimento teve como efeito imediato uma esperada queda de tráfego direcionado aos veículos. É cedo para dizer o impacto que isso terá a médio prazo —a audiência total da Folha, por exemplo, cresceu após a decisão de interromper a publicação de conteúdo no Facebook, há três anos. Quem procura jornalismo de qualidade sabe onde encontrá-lo. Há vida fora da maior rede social do mundo.

editoriais@grupofolha.com.br

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