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Padrão 'rachadinha'

Contas de ex-assessores na Câmara ampliam suspeitas sobre Bolsonaro e família

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Jair Bolsonaro em 2017, quando era deputado - Alan Marques - 2.fev.17/Folhapress

Desde que vieram à tona os primeiros indícios de que havia algo estranho na movimentação financeira do policial aposentado Fabrício Queiroz, faz-tudo do presidente Jair Bolsonaro e de sua família, as desconfianças só aumentam.

No ano passado, promotores acusaram o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) de liderar um esquema de desvio de milhões de reais da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro nos anos em que ele foi deputado estadual.

Após uma devassa nas contas de Flávio e dezenas de ex-funcionários, o Ministério Público apontou evidências de que o filho mais velho do presidente usara salários dos servidores para pagar despesas pessoais e comprar imóveis.

Em fevereiro, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça atendeu a um pedido do senador e anulou a decisão da primeira instância que autorizara a quebra do sigilo das suas contas, pondo em xeque o futuro da investigação.

Na segunda (15), soube-se que as informações obtidas pelos promotores comprometem não apenas Flávio, mas o próprio presidente.

Como revelou o UOL, os dados mostram que quatro ex-assessores do gabinete que Bolsonaro ocupou na Câmara dos Deputados antes de chegar ao Planalto tinham o hábito de sacar em espécie a maior parte de seus vencimentos.

Isso leva à suspeita de que ocorriam ali também desvios como os encontrados pelos promotores na Alerj, onde um padrão de retiradas de dinheiro vivo e transferências incomuns foi associado ao esquema das “rachadinhas”.

Reportagem publicada pela Folha no ano passado já havia detectado movimentos inexplicáveis no antigo gabinete de Bolsonaro, com alta rotatividade de assessores, alguns demitidos e recontratados no mesmo dia com salário maior.

São indícios suficientemente fortes para justificar uma investigação sobre as práticas adotadas ali. O fato de que nada tenha sido feito até hoje é apenas mais uma demonstração da tibieza do procurador-geral da República, Augusto Aras.

É possível que as decisões do STJ no caso de Flávio prejudiquem de forma irremediável os esforços para investigá-lo. Mas cabe ao Ministério Público fazer seu trabalho e buscar novos elementos para esclarecer as suspeitas sobre a família.

A Constituição impede que Bolsonaro seja processado por atos estranhos às suas funções como presidente da República, mas isso não significa que não possa ser investigado por eventuais crimes do passado e responsabilizado após deixar o cargo. Para isso, basta seguir as pistas à vista de todos.

editoriais@grupofolha.com.br

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