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Vacina made in Brazil?

Mesmo com dúvidas e politização, corrida entre SP e Brasília pode ser benéfica

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Fábrica do Instituto Butantan onde são produzidas doses da vacina Coronavac - Eduardo Anizelli/Folhapress

De súbito, o país recebeu a notícia de que devem começar em breve os testes de duas vacinas nacionais, uma desenvolvida no Butantan, ligado ao governo de São Paulo, e outra da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, patrocinada pelo governo federal.

A boa nova foi manchada de controvérsia em poucas horas com a afirmação do hospital Mount Sinai, de Nova York, de que a anunciada Butanvac foi na verdade desenvolvida nos Estados Unidos.

A ser assim —o caso ainda merece maior esclarecimento—, trata-se de um vexame propagandístico da administração paulista. Para a saúde pública, porém, interessa o imunizante, venha de onde vier.

Em três fases cruciais, os cientistas vão examinar em humanos se os produtos provocam efeitos colaterais perigosos, se o sistema imunológico responde ao estímulo da vacina, qual sua melhor dosagem e, enfim, sua eficácia.

O governo de São Paulo e o Butantan afirmam haver meios de acelerar os testes, que poderiam ser concluídos três meses depois de autorizados pela Anvisa. De modo informal, no anúncio da vacina da USP, o governo federal estimou em três meses a duração das fases 1 e 2 de teste, as mais curtas.

A fase 1 de teste da Coronavac, produzida pelo Butantan, começou na China em abril de 2020. A coleta de dados da fase 3 terminou no Brasil em dezembro. Mas nada se sabe ainda de objetivo da possibilidade de sucesso da Butanvac, da qual se prometem 40 milhões de doses até o final do ano.

Enquanto não se pode contar com as vacinas brasileiras, resta esperar que não ocorra frustração ainda maior do cronograma de imunização do Ministério da Saúde. Pelo calendário divulgado, pode-se calcular que até o fim de abril haveria vacinas para cerca de 32% da população vacinável, de 18 anos ou mais; em maio, para 46%.

Considerada a população dos grupos prioritários, as taxas seriam de 64% e 92%, respectivamente. Nesses grupos prioritários ocorrem pelo menos 90% das mortes de Covid-19 no Brasil.

A Covaxin e a Sputnik ainda não foram aprovadas pela Anvisa, entre outros empecilhos. Em uma projeção que desconsidera as importações desses produtos —indiano e russo—, até o fim de maio haveria vacinas para quase 39% da população vacinável e 78% das pessoas dos grupos prioritários.

Dada a velocidade aterradora da disseminação da doença, qualquer imprevisto se torna preocupante. A fim de atenuar a epidemia, serão necessárias mais medidas de distanciamento e estratégias inteligentes de controle do vírus. Resta esperar, ainda, que a disputa política entre Brasília e São Paulo se transforme em maior eficiência.

editoriais@grupofolha.com.br

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