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João Paulo Pacifico

Um convite: posicione-se contra o governo

Talvez eu tenha perdido clientes, mas omissão é conivência

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João Paulo Pacifico

Empresário do mercado financeiro, é presidente do Grupo Gaia e autor do livro 'Onda Azul' (ed. Trilha das Letras)

“João, pare de se posicionar contra as atitudes do governo. Quem apoia o Bolsonaro não vai querer fazer negócios com você.” Diversas pessoas têm me dito isso ao longo dos últimos dois anos, normalmente através de intermediários.

No mesmo momento em que o ESG ("Environmental, Social and Corporate Governance") se torna a sigla da moda na Faria Lima, estamos passando pelo maior governo anti-ESG da história recente do Brasil. E o tal mercado, que fez um manifesto dizendo que temos que usar máscara e tomar vacina, não se posiciona de forma clara contra o governo.

João Paulo Pacifico, do Grupo Gaia, que participa do Impact Talks
O empresário João Paulo Pacifico, do Grupo Gaia - Divulgação

ESG é a sigla que, para o português, pode ser traduzida como "governança ambiental, social e corporativa", aspectos que todas as empresas deveriam seguir na mesma medida em que “marketeiam” suas boas intenções. Mas será que o governo do posto Ipiranga é realmente anti-ESG?

Começando pelo "ambiental", aquele setor em que o ministro Ricardo Salles aproveita a pandemia para "passar a boiada". Desmontar a fiscalização, defender madeireiros enquanto o desmatamento segue em ritmo acelerado, colocando-nos como párias do mundo. O vexame que passamos na recente Cúpula do Clima não deixa dúvidas disso.

Do lado social, temos a inominável Damares Alves para resguardar os direitos humanos, o aporofóbico Paulo Guedes lutando contra os pobres (o que acha um absurdo empregada viajar para a Disney, filho de porteiro ir para a universidade e ter que pagar auxílio emergencial) e um presidente negacionista, difundindo fake news e nos conduzindo a passos largos rumo às 500 mil mortes.

E a governança? Transparência não é o forte da família. Michelle Bolsonaro ainda não explicou os cheques em sua conta, os filhos especialistas em "rachadinhas" e exímios gestores de lojas de chocolate e imóveis não contaram como fazem a multiplicação do dinheiro. O sigilo do cartão de crédito corporativo da Presidência, bem como os mais de R$ 2 milhões gastos em 15 dias de férias no litoral, são exemplos do que não fazer em termos de governança.

Ameaças ao Congresso e ao STF, apologia à ditadura militar e ataques à Constituição são atitudes inaceitáveis em uma democracia séria.

Os episódios do Black Lives Matter nos ensinaram que não basta não sermos racistas. Para acabar com o racismo, precisamos ser antirracistas.

Da mesma forma, ao nos depararmos com um governo que destrói a natureza, enfraquece o social e que não tem a menor governança, precisamos nos posicionar claramente; afinal, omissão é conivência.

Não tem sido fácil me posicionar. Talvez eu tenha perdido clientes, mas jamais deixarei de lutar pelo que acredito. Meus valores morais são mais importantes do que os financeiros.

Martin Luther King disse: “O que me preocupa não é grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.
Por isso te convido a se posicionar contra esse governo. De forma ativa, corajosa e sem violência.

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