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Alok Sharma

COP-26 é a última chance de mantermos o 1,5ºC vivo

Seca pode se intensificar no Brasil, com efeitos na agricultura e energia

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Alok Sharma

Presidente da COP-26, reunião internacional sobre a crise do clima que acontece de 31 de outubro a 12 de novembro em Glasgow, na Escócia

Em novembro, Glasgow, na Escócia, receberá o mundo para a 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP-26. Este é o momento de colocarmos o planeta no curso certo para lidar com a grande ameaça das mudanças do clima e construir um futuro promissor para todos.

Sabemos o que fazer. Em 2015, por meio do Acordo de Paris, o mundo se comprometeu a limitar o aumento global da temperatura a 2ºC, esforçando-se para mantê-lo abaixo de 1,5ºC. A ciência nos diz que isso evitaria os piores efeitos das mudanças climáticas.

Entretanto, o mundo não chega nem próximo do suficiente. Como presidente da COP-26, tenho testemunhado de perto esses efeitos. O Brasil não é exceção: partes do ecossistema único da floresta amazônica estão sob risco de se transformarem em um tipo de savana, e eventos de seca tendem a se intensificar, com consequências para a produção de energia e de alimentos.

Para nos mantermos a 1,5ºC, devemos cortar pela metade as emissões de carbono até 2030. Esta década é decisiva —e, por isso, a COP-26 é crucial. Como presidente da conferência, estou trabalhando com todos os países, empresas e sociedade civil em um plano de quatro pilares.

Primeiro, precisamos colocar o mundo em um caminho de redução de emissões até que alcancemos a neutralidade de carbono em meados do século. Para isso, os países devem anunciar metas claras de redução, incluindo para 2030, que sejam consistentes com a neutralização até 2050. Essas metas precisam estar ancoradas na ciência para que não sejam apenas intenções vagas. Também precisamos ver ações dos setores mais poluentes. Glasgow precisará ser a COP que relegará o carvão para a história, que indicará uma data para o fim de veículos poluentes e que pedirá um basta ao desmatamento.

Nosso segundo objetivo é proteger as pessoas e a natureza. A crise climática já é uma realidade. Precisamos resolver as reais necessidades de defesa contra enchentes e criar sistemas de aviso, além de outros esforços vitais para diminuir e lidar com as perdas e danos causados pelas mudanças do clima.

O terceiro objetivo é sobre financiamento. Sem ele, todo o resto será quase impossível. Países ricos precisam cumprir a promessa de prover US$ 100 bilhões por ano para apoiar as nações em desenvolvimento. O Reino Unido já lidera pelo exemplo, tendo comprometido 11,6 bilhões de libras entre 2016 e 2025. Precisamos que todos os países ricos deem mais. É uma questão de confiança.

Quarto, precisamos trabalhar juntos para cumprir esses objetivos. Isso inclui criar consenso entre os governos para que as negociações em novembro sejam um sucesso. Da mesma forma, precisamos trabalhar com o setor privado e a sociedade civil.

Nos últimos dias, me encontrei com representantes dos governos federal, estaduais e municipais, do setor privado e da sociedade civil em Brasília. Conversei sobre como o Brasil pode alavancar seus compromissos climáticos em linha com as bem-vindas promessas do presidente Jair Bolsonaro feitas em abril. Foi ótimo escutar que o país vai apresentar em novembro, na COP-26, seu plano para alcançar emissões líquidas zero em 2050 e eliminar o desmatamento ilegal em 2030.

Fiquei muito contente em presenciar os compromissos de estados, cidades e empresas na campanha “Race to Zero”. Juntos, os estados representam cerca de 50% das emissões e 50% do PIB do Brasil. Foi ótimo também ouvir representantes do Congresso sobre seus planos de aumentar a ambição na meta contra o desmatamento ilegal.

Como potência ambiental e agrícola, o Brasil tem um importante papel no combate às mudanças do clima e uma enorme oportunidade de se beneficiar do aumento de fluxos financeiros que deverão ser gerados.

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