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Golpismo no asfalto

Açulados por Bolsonaro, caminhoneiros sabotam o país com pauta antidemocrática

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Caminhoneiros fazem bloqueio na rodovia Castelo Branco, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Parlamentares e militantes bolsonaristas convocaram caminhoneiros para os atos golpistas do 7 de Setembro. Alguns dos engajados nessa causa do presidente da República são investigados no Supremo Tribunal Federal, entre eles um autointitulado líder dos motoristas e o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil.

Na véspera do feriado nacional, caminhões invadiram e ocuparam a oficialmente interditada Esplanada dos Ministérios, em Brasília, entre eles vários veículos ligados a empresas do setor agropecuário.

Depois, caminhões foram usados em bloqueios de estradas em ao menos 15 estados. Na noite de quarta (8), Jair Bolsonaro, ao que parece preocupado com a economia, pediu aos “caminhoneiros aí” que, “se for possível”, liberem as vias, como se ouve no áudio enviado a quem chama de “aliados”

Como fica evidente, o presidente e seus apoiadores estão envolvidos de um modo ou de outro na promoção de mais essa baderna.

Bolsonaro e algumas entidades empresariais estão ligados ao movimento sindical e político dos caminhoneiros desde a paralisação de maio de 2018, que quase levou o país ao colapso. O movimento teve o apoio do hoje presidente, à época deputado, e de associações como a Aprosoja e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas.

Segundo integrantes do governo Michel Temer (MDB), inclusive, tratou-se também de um locaute, com o envolvimento de empresários do setor de transporte.

Caminhoneiros se articularam desde então, em particular por redes sociais, mas diversos representantes dos motoristas autônomos negaram participação nas manifestações do Dia da Independência. Ao que parece, os bloqueios são liderados por voluntários engajados na ofensiva autoritária e bolsonaristas como Marcos Pereira.

Conhecido como Zé Trovão, esse militante é investigado por incentivar atos golpistas e diz estar ao lado de Bolsonaro, a quem pede ajuda. Afirma ser vítima de perseguição política, como outros ativistas presos ou suspeitos de promoverem ataques à ordem constitucional, entre outros crimes.

Os caminhoneiros bolsonaristas acreditaram nas palavras do presidente da República, que insuflou ataques ao Supremo Tribunal Federal e pregou a desobediência a decisões judiciais —a ocupação da Esplanada e os bloqueios de estradas são um subproduto do ataque às instituições democráticas promovido desde o Planalto.

O descaramento avançou nesta quinta (9), quando líderes da sabotagem motorizada se encontraram com Bolsonaro —por si só, um escândalo— e disseram que a liberação das vias será condicionada a uma audiência com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para debater a ação do STF.

A pretensão seria um desplante digno de risos, não tivessem os chantagistas já sido recebidos pela mais elevada autoridade do país.

editoriais@grupofolha.com.br

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