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O que a Folha pensa inflação

País estagnado

Como atestam números do PIB, economia prossegue entre recessão e mediocridade

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Efeito da estiagem no rio Paranapanema, na divisa dos estados de São Paulo e Paraná - Rubens Cardia/Folhapress

A estagnação mostrada pela economia brasileira no segundo trimestre não altera em demasia o quadro esperado para o restante deste 2021. Ainda é provável que o Produto Interno Bruto, depois de cair 0,1% entre abril e junho, feche o ano com expansão próxima a 5%, o que consolidará a recuperação das perdas da pandemia.

Nessa métrica restrita, o país não destoa tanto do padrão mundial, mas uma abordagem mais ampla, levando em conta as perdas de emprego e renda, põe em evidência enormes dificuldades e incertezas.

O resultado pífio do trimestre não ficou muito abaixo das expectativas. Esperava-se a retração na agropecuária, que chegou a 2,8%, em decorrência do impacto do clima adverso em safras importantes como milho, cana e café.

Depois de um desempenho favorável no ano passado, a produção manufatureira também caiu (2,2%), em parte por causa de percalços notáveis em algumas cadeias produtivas, caso do setor automotivo.

A alta modesta dos serviços (0,7%), por sua vez, está associada a restrições decorrentes do agravamento da crise sanitária.

Pela ótica da demanda, houve parada do consumo e queda expressiva dos investimentos. As transações com o exterior, impulsionadas pelas exportações de matérias-primas, evitaram o pior.

Com o relaxamento de quarentenas e limites ao comércio e a outras atividades, espera-se aceleração no segundo semestre, com consequências positivas para a geração de emprego e a renda das famílias.

A esse respeito, de fato, o dado mais recente apontou queda na taxa de desocupação (para 14% no trimestre encerrado em junho, com ajuste para a sazonalidade, ante 14,3% na leitura de um mês antes).

Mesmo assim, a massa salarial ainda permanece 6% abaixo do patamar anterior à pandemia, enquanto a inflação —que deve chegar a ao menos 8% neste ano— castiga sobretudo os mais pobres, dada a concentração em itens de consumo essencial como alimentos, combustíveis e energia.

Pior, com o agravamento das incertezas sobre o rumo da política econômica, que tem reforçado a escalada da inflação e dos juros, e da crise hídrica que ameaça o fornecimento de energia, as projeções para 2022 têm piorado e já caem abaixo de 2% —antes mesmo que se possam quantificar os impactos advindos dos ataques às instituições por parte de Jair Bolsonaro.

Não surpreende nesse quadro caótico que consumidores e empresas se retraiam, afastando o otimismo que poderia derivar do avanço da vacinação nas últimas semanas.

Por novos e velhos motivos, o país prossegue entre a recessão e a mediocridade econômica, como ocorre já há uma década.

editoriais@grupofolha.com.br

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