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O que a Folha pensa Banco Central

O risco maior

Descrédito do teto e alta dos juros geram temor de que dívida do governo volte a crescer sem freio

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Dois homens brancos de terno e gravata lado a lado olhando em direções diferentes. O primeiro, de cabelos escuros, grisalhos nas têmporas. O segundo, de cabelos brancos, com entrada pronunciada, e óculos.
O presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes. - Evaristo Sá/AFP

Ao elevar a taxa básica de juros de 6,25% para 7,75% ao ano, o Banco Central anunciou que a economia brasileira será abatida pela onda mais agressiva de aperto monetário em quase duas décadas.

Pelo que se depreende da leitura do comunicado divulgado pela instituição nesta quarta-feira (27), pode ser ainda pior. A taxa Selic deve ir a pelo menos 9,25% em dezembro, com outro aumento de 1,5 ponto percentual.

Até esta semana, o ritmo de incremento era de 1 ponto, já em marcha forçada para conter a inflação, que surpreende desde o segundo trimestre. O passo pode ser acelerado ainda outra vez em caso de descontrole das expectativas econômicas.

O risco maior é de descrédito das normas que estipulam um limite para a despesa federal e que em certa medida contêm o crescimento da dívida pública. Jair Bolsonaro, com a aprovação de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, trabalha pela revisão do teto de gastos.

O Banco Central deu a entender que não tem como certa a aprovação da emenda constitucional que aumenta o teto. A aceleração do ritmo da Selic agora seria apenas para conter o estrago já feito pelos planos irresponsáveis de Bolsonaro e Guedes.

Disseminou-se ainda mais a impressão de que nem mesmo regras inscritas na Constituição, como a do teto, reprimem o descuido com as contas públicas. Renovou-se o temor de que a dívida do governo volte a crescer sem freio, como entre 2014 e 2017.

A dívida federal aumentou de modo expressivo, mas em tese passageiro, durante a epidemia. A inflação mais alta do que se esperava elevou o custo de financiá-la, pois provocou aumento das taxas de juros. Agora, todos esses problemas se realimentam.

O choque inflacionário mundial continua, agravado pela desvalorização do real, em parte devida aos desatinos de Bolsonaro. O aumento de gastos e o desmonte do teto contribuem para piorar as expectativas inflacionárias. Tal degradação pressiona os juros e leva o BC a acelerar a Selic. A dívida aumenta e os juros altos encarecem ainda mais seu financiamento.

O governo deficitário não consegue nem ao menos pagar suas despesas básicas com a receita disponível. A conta de juros, não paga e cada vez maior, se acumula na pilha de dívidas. O passivo aumenta também em relação ao tamanho da economia, que deve permanecer estagnada em 2022.

Em resumo, é esse processo que gera temores de descontrole da dívida. Um limite crível para o gasto público, qualquer que seja sua versão, contribuiria para desanuviar o ambiente. Sem tal controle, resta a espiral que realimenta a degradação.

editoriais@grupolha.com.br

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