Em episódio anedótico de suas dificuldades para recuperar unidade interna e protagonismo na cena nacional, o PSDB não conseguiu levar a cabo no domingo (21) as prévias para a escolha de seu candidato à Presidência da República.
Após meses de discussões de regras, que ora pareciam favorecer um competidor, ora outro, os tucanos enfim deveriam apontar o nome a ser referendado em convenção no próximo ano.
Foi uma trapalhada. O aplicativo contratado pelo partido para que filiados votassem a distância não suportou nem uma hora de uso. À mazela tecnológica somou-se o bate-boca político, em que os dois favoritos da disputa, os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), trocaram acusações e se desentenderam quanto ao que fazer.
Será precipitado, contudo, desqualificar o processo por sua falha. Ao contrário, as prévias se mostram instrumento valioso para a democratização e para a transparência do debate eleitoral.
Como lembrou o terceiro e figurativo rival na disputa tucana, Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus, é preciso começar por algum ponto para chegar ao nível das primárias americanas.
As duas prévias presidenciais de relevo anteriores, do PT em 2002 e do PMDB em 2006, tiveram respectivamente o caráter de um referendo e de uma farsa. No caso dos tucanos, o processo incluiu debates e, para surpresa do grupo do líder paulista, o crescimento do gaúcho como um rival viável.
Na teoria, a adoção do polêmico app de voto remoto também vai na direção correta de ampliar o acesso dos filiados da sigla ao certame.
O problema, como está evidente, foi a falta de confiabilidade do programa usado. Como dizia relatório de segurança feito por empresa privada sobre o software, seria necessário ter um plano B à mão para evitar toda a confusão.
Aí a conta fica para o açodamento das campanhas das prévias, uma queda de braço que ao fim contribuiu para o triste espetáculo.
Como procedimento, contudo, as prévias são um avanço ante o tradicional conchavo de meia dúzia de caciques —quando não menos.
Se elas expõem um partido trincado, a culpa é da tibieza da sigla, não da prévia. De quebra, sua sistematização também poderia ter o condão de aprofundar o contato entre agremiação e filiados.
Na forma atual, as listas de filiação são ficcionais, com números cumulativos não depurados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Assim, não é surpresa que dos supostos 1,3 milhão de tucanos, apenas 45 mil tenham se credenciado para votar.
O desfecho da discussão no PSDB ainda está em aberto, mas ele não deveria demover outros partidos de buscar o mesmo caminho.
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