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Adolfo Sachsida

A economia brasileira deve melhorar em 2022? SIM

Manter as reformas pró-mercado aumentará a produtividade

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Adolfo Sachsida

Chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia

Para 2022, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia estima crescimento de 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB). O mercado aponta alta de 0,5%, ou até queda, mas a SPE acredita em desempenho bem mais robusto ao considerar os principais drivers de crescimento deste ano que começa: investimento privado e emprego. Vários fatores comprovam nossas estimativas.

Em primeiro lugar, uma questão técnica: analistas de mercado usam modelos de demanda agregada para avaliar o curto prazo. Apontam que a falta de demanda restringe a produção. Neste momento, considerar somente a demanda agregada é um erro. Por três motivos: a) as taxas de ocupação e de participação da força de trabalho estão abaixo dos patamares pré-pandemia e certamente subirão em 2022; b) a política de concessões agora estimula o investimento privado, não apenas o valor de outorga. Nos 131 leilões realizados de 2019 a 2021 foram assegurados R$ 822,3 bilhões para investimentos futuros. Ou seja, há investimento privado contratado para o próximo ano; e c) na atual crise, é a oferta agregada que restringe a produção e o emprego, não a demanda agregada. O caso da indústria automobilística é didático: a produção caiu por falta de componentes, não de compradores.

O secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida - Mateus Bonomi - 24.jul.20/Folhapress

Em segundo lugar: a mudança do perfil do crédito. Em outubro de 2015, o crédito livre respondia por 50,7% do total, saltando para 58,7% em outubro de 2021. Em outubro de 2015, os bancos privados respondiam por 44,1% do crédito total, índice que chegou a 57% em outubro do ano passado. Isso significa que o crédito vai hoje para onde é mais eficiente, resultando em investimentos mais produtivos.

Em terceiro lugar: o cenário externo segue favorável ao Brasil. Nossos principais parceiros comerciais crescerão em 2022, favorecendo nossos termos de troca e impulsionando nosso PIB.

Em quarto lugar: estatísticas fiscais positivas. Em 2021, o Brasil reduziu sua relação dívida/PIB em 8,4 pontos percentuais (um dos maiores ajustes fiscais entre mais de cem países desde 1981; dados do FMI). Este governo chegará ao final de 2022 gastando menos do que quando assumiu, fato inédito em 20 anos.

As três principais fontes de gastos (Previdência, folha de pagamento e juros) foram reduzidas. Mesmo durante a pior crise sanitária brasileira, as despesas estruturais seguiram praticamente constantes (o déficit estrutural do setor público saiu de 1,16%, em 2019, para 1,33%, em 2020). O excesso de gastos foi tratado como transitório, não permanente, retirado com o alívio da pandemia de Covid-19.

O quinto ponto, e talvez o mais importante, refere-se à compreensão do choque econômico atual, provocado por um choque negativo de oferta, não de demanda. Isso exige soluções distintas das fórmulas tradicionais de política econômica. A indústria opera sob restrição produtiva (interrupção de cadeias globais, alta no custo de contêineres, energia mais cara ocasionada pela maior crise hídrica dos últimos 92 anos). Os serviços foram afetados pelas limitações no combate à pandemia, e o clima adverso afetou a agropecuária.

Choques transitórios de oferta atingiram toda a economia. Regularização do suprimento de insumos e queda dos custos de energia e transporte; retomada dos serviços pela vacinação em massa; e um período climático menos adverso nos faz acreditar em uma economia muito melhor em 2022 do que as apostas de mercado.

O fundamental é manter a política econômica de consolidação fiscal e reformas pró-mercado, aumentando a produtividade. É a economia pelo lado da oferta.

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