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O que a Folha pensa

Além da inauguração

Agora palco para Bolsonaro, a custosa transposição demanda medidas mais amplas

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O presidente Jair Bolsonaro em obra da transposição do São Francisco, em Pernambuco - @jairbolsonaro no Twitter

A transposição do São Francisco fornece exemplo caudaloso das obras faraônicas que sangram cofres públicos no Brasil. Décadas se passam sem que benefícios prometidos se materializem de modo pleno, enquanto políticos se aproveitam para festivas inaugurações.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) não foge à praxe. Nesta terça-feira (8) marchou ao semiárido nordestino para acionar bombas do eixo norte do empreendimento e visitou barragens associadas.

Mais que segurança hídrica, pretexto oficial da incursão, ele está de olho em sua insegurança eleitoral. Precisa inventar algo para alavancar sua popularidade na região, onde o rival Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sua maior vantagem nas pesquisas de intenção de voto.

Na impossibilidade de negar que a transposição começou por iniciativa do ex-presidente, Bolsonaro se atém à crítica segundo a qual Lula não concluiu a obra controversa. É verdade, até certo ponto: o atual mandatário só tem o que inaugurar porque a empreitada caminha mal desde sempre.

O projeto data do século 19 e só começou a ser executado em 2007, no segundo mandato do petista. Deveria ficar pronto em 2012, porém começou a funcionar apenas parcialmente, em seu eixo leste, em 2017, no governo Michel Temer (MDB), logo após o impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Não é preciso dizer que, nessa toada, os 477 km de canais tiveram seu custo multiplicado —de R$ 4,5 bilhões, a conta para o Tesouro Nacional já está em R$ 12 bilhões.

Nem é o caso, agora que a transposição se fez realidade, de reviver antigas objeções ambientais e considerações de benefício versus custo. Dado o fato consumado, cumpre tirar o melhor proveito do empreendimento.

Persiste, nesse sentido, o descaso com obras complementares para perenizar a dádiva prometida a 12 milhões de nordestinos.

Sem construir adutoras e canais de irrigação para disseminar acesso ao recurso, o Velho Chico só beneficiará moradores e agricultores às margens dos açudes que o rio alimentar. Abrem-se as comportas, assim, para outro vício corrente na região: o uso político da água, com favorecimento de apaniguados e cabos eleitorais.

Nessa seara, o governo Bolsonaro promoveu um retrocesso com o aviltamento do programa das cisternas, submetido ao jogo fisiológico do centrão. Esses reservatórios locais para armazenar água de chuva já se provaram eficazes na redução da insegurança hídrica, mas submergiram no mar de incúria e politicagem bolsonarista.

editoriais@grupofolha.com.br

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