Diante da multiplicação dramática da população de rua, sobretudo de famílias vítimas do desemprego, a Prefeitura de São Paulo anunciou novas medidas de acolhimento e proteção social. Algumas, inclusive, reciclam políticas abandonadas por gestões anteriores.
Em troca de um valor ainda não definido, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) planeja a contratação de mil sem-teto para cuidar da varrição e manutenção de canteiros e jardins.
Algo semelhante ocorreu no extinto De Braços Abertos, do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Ainda que a prioridade fossem dependentes químicos da região da cracolândia, o programa também remunerava os atendidos, além de disponibilizar vagas em hotéis, mediante execução de serviços de zeladoria —com a contrapartida de que aceitassem tratamento médico.
Alvo de críticas da oposição, a iniciativa acabou após a eleição do então prefeito João Doria (PSDB). Criou-se no lugar o Redenção, que preconizava a internação dos dependentes em clínicas psiquiátricas. O programa, depois, atrelou-se ao Trabalho Novo: este estimulava a capacitação laboral de moradores de rua antes de encaminhá-los a vagas na iniciativa privada.
Ambos, contudo, foram suspensos pelo sucessor de Doria, o também tucano Bruno Covas: o primeiro devido à alta rotatividade de internações; o outro por não cumprir a meta de 20 mil empregos em 12 meses —foram 2.626 contratações em dois anos de vigência.
A nova aposta, já sob o comando de Nunes, ganhou a alcunha de Reencontro. De certo modo, pretende-se repetir a oferta de habitações transitórias —abrigar famílias por até 12 meses em casas modulares no centro— e preparação "profissional e socioemocional" dos sem-teto para aproveitar a mão de obra em atividades sob responsabilidade da administração.
A descontinuidade de programas ao sabor do governante de turno é uma chaga da vida pública nacional que não respeita nem mesmo afinidades partidárias, como mostram Doria, Covas e Nunes, frutos de um mesmo projeto político.
Decerto o modelo mais assertivo para atenuar os efeitos de um crescimento de 31% da população de rua durante a pandemia (31.884 pessoas), a combinação moradia e emprego exige persistência e investimentos de longo prazo, independentemente de interesses eleitorais ou inclinações ideológicas.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.