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Vieses policiais

Negros, pobres e moradores da periferia são mais parados; urge adoção de câmeras

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Operação policial na comunidade do Jacarezinho, no Rio - Fabiano Rocha - 6.mai.21/Agência O Globo

Os dados parecem não deixar dúvidas: os negros são mais abordados por policiais na cidade do Rio de Janeiro. Eles representam 63% das pessoas que dizem ter sido paradas por agentes da lei, uma fatia consideravelmente superior ao seu peso entre os cariocas (48%).

Os que se declaram brancos, em comparação, equivalem a 51% da população local e correspondem a 31% de quem foi parado ou abordado. No total, 39% dos entrevistados na cidade afirmaram ter passado por essa experiência.

Os números, apurados pelo Datafolha, estão no relatório "Elemento Suspeito", lançado na terça-feira (15) pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania.

Ressalve-se que nem todos os contatos com a polícia relatados são negativos. Dos 739 moradores do Rio que responderam ao questionário completo, 66% viram agentes ajudando pessoas. No entanto nada menos que 46% testemunharam agressões, e 32% tiveram um parente ou amigo morto ou ferido.

Procurada pela Folha para comentar os resultados do levantamento, a Polícia Militar fluminense afirmou que não há viés racial nas suas operações e que segue protocolos rígidos de atuação.

A resposta, formal e irrealista, poderia levar em consideração outros aspectos identificados pela pesquisa. Por exemplo, 66% das pessoas paradas pela polícia vivem em bairros periféricos ou favelas e 60% ganham até três salários mínimos —segmentos sobrerrepresentados por pretos e pardos.

Logo, fatores como geografia e nível de renda adicionam uma camada de complexidade à questão puramente racial. Trata-se aqui, ademais, de uma cidade que tem parte importante de seu território sob o poder de criminosos e que amarga patamares alarmantes de letalidade em operações policiais.

De nada adianta virar as costas para a truculência e para os vieses por trás de boa parte de abusos e ilegalidades. É preciso encarar o problema e pensar em soluções.

Uma delas está à vista de todos. Trata-se das câmeras portáteis em uniformes, utilizada com êxito nas forças policiais de São Paulo. O equipamento inibe o mau comportamento dos agentes da lei com um simples ganho de transparência.

Sua adoção em todos os estados é urgente para conter o arbítrio e combater abusos —inclusive aqueles que a Polícia Militar fluminense ainda não consegue enxergar.

editoriais@grupofolha.com.br

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