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Rodrigo ‘Kiko’ Afonso

ESG é jogar pelo empate

Agenda virou apenas uma ferramenta de controle de riscos dos investidores

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Rodrigo ‘Kiko’ Afonso

Diretor-executivo da Ação da Cidadania

Estamos perdendo o jogo da sustentabilidade já ao nascermos. O nascimento gera impactos ao meio ambiente, seja no lixo produzido ou no consumo cada vez mais intenso por indivíduos no nosso planeta.

Infelizmente, a brutal desigualdade do mundo faz com que poucos possam contribuir de forma assertiva para equilibrar a balança de impacto negativo versus positivo. A verdade é que ser sustentável, para a maioria da população, é privilégio.

O meio empresarial, para responder às cobranças dos clientes, criou o que conhecemos como ESG (em inglês, "Environmental, Social and corporate Governance" —algo como melhores práticas ambientais, sociais e de governança em português).

Você certamente já viu anúncios de empresas se vangloriando com cenas lindas da Amazônia, com crianças felizes dizendo que estão fazendo a parte delas.

Assim como nós, o simples fato de uma empresa existir já gera impactos ambientais e sociais. Com uma sociedade cada vez mais exigente com as empresas nas questões social e ambiental, a reputação e, consequentemente, desvalorização de suas ações estão sempre em xeque.

Ao observarem os riscos potenciais em seus investimentos, investidores mundiais notaram que, para minimizarem seus riscos, deveriam criar regras para suas empresas aderirem no que tange a danos de reputação em questões ambientais e sociais. Não à toa, esses indicadores hoje fazem parte do mapeamento de riscos das companhias.

Como exemplo, uma grande rede de supermercados, onde um rapaz negro foi espancado até a morte por seguranças, teve queda de mais de 5% nas suas ações em um único dia.

Infelizmente, a grande realidade sobre o ESG é que sua implementação virou uma ferramenta de controle de riscos dos investidores —em vez de uma ação pensando em salvar o planeta. Sendo mais claro, ao nos aprofundarmos nos índices que medem os resultados ESG das empresas, vemos que o foco é totalmente intramuros. Meus funcionários, meu entorno e meu impacto. Para o ESG, o que vale é zerar o jogo.

Contribuir para além dos muros pode até ser visto como negativo, pois o gasto não implica redução de riscos do negócio. De fato, não contribui nem para a redução dos riscos nem para melhorar os índices ESG da empresa. Logo, se ela investe em combate à fome doando cestas para regiões onde não atua, isso não pontua seu relatório ESG.

Analisando relatórios ESG de empresas para a B3 (Bolsa brasileira) nota-se que, mesmo no jogo do zero a zero, a maioria das empresas ainda está longe de fazer o básico —muito menos retornar positivamente para a sociedade.

Prova disso é que o apoio a ações de impacto social fora de seus muros vem de recursos de marketing, pois não se justificam na rubrica de ESG.

O fato é que o ESG mede o que deveria ser obrigação da empresa, e ela não deveria vender isso como nada além do mínimo necessário.

Por isso, a Ação da Cidadania luta para que investimentos sociais privados fora dos planos de materialidade ou localidades de atuação sejam identificados nos índices como um indicador positivo, reconhecendo empresas que fazem além do que é sua obrigação.

Porque fazer o mínimo não é o suficiente, é preciso fazer mais.

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