A melhora da situação sanitária tem favorecido a recuperação do mercado de trabalho brasileiro, mas ainda resta um longo caminho até a plena normalização.
Se é verdade que o impulso recente já permite o restabelecimento do emprego no patamar anterior à pandemia, isso ocorre num contexto de grande perda de renda para os trabalhadores, pois os salários não acompanham a inflação.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) referentes ao trimestre encerrado em janeiro mostraram a criação de 1,47 milhão de novos postos de trabalho, com alta de 1,6% ante o período de agosto a outubro de 2021.
É positivo que quase 79% dessas vagas (1,15 milhão) são formais, seja com carteira assinada, no setor público ou por conta própria. Trata-se de um padrão diferente do observado até meados do ano passado, quando a expansão se dava basicamente na informalidade.
Setores abalados pelo impacto da Covid-19 mostram crescimento mais forte. O pessoal ocupado no segmento de alojamento e alimentação ampliou-se em 4,1%, e o comércio contabilizou alta de 2,4% nas contratações. Em conjunto, essas atividades representam 24,8% do total de empregos formais.
A taxa de desemprego recuou para 11,2%, o menor percentual para o período desde 2016 e uma queda de 0,9 ponto percentual em relação ao trimestre anterior. Embora ainda haja 12 milhões de pessoas desocupadas, a cifra se reduziu em 858 mil no trimestre e em 2,7 milhões ao longo de um ano.
O grande problema continua a ser o poder de compra, que sofre os efeitos da escalada de preços. A renda real média na última pesquisa atingiu R$ 2.489 mensais, 9,7% abaixo do mesmo período do ano passado e o menor patamar da série histórica iniciada em 2012.
A força da ocupação e a fraqueza da renda são elementos que ainda indicam ociosidade no mercado e baixo poder de barganha dos trabalhadores. As novas contratações tendem a ocorrer com salários menores, e os dissídios salariais têm tido dificuldade em acompanhar a inflação ora elevada.
Outro fenômeno que dificulta a análise da conjuntura e da tendência é o alto grau de rotatividade por vontade própria dos empregados. O mesmo tem sido observado em outros países desde a pandemia, o que sugere que estão em curso mudanças setoriais na oferta e na demanda.
Nessa hipótese, é possível que o desemprego elevado não signifique excesso geral de oferta de mão de obra, o que pode ser indicativo de melhoria salarial adiante.
É inegável, contudo, que o quadro permanece dramático. Com a inflação em alta, não se espera significativa retomada na renda neste ano, enquanto o aperto nos juros dificulta as contratações.
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