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Sinais trocados

Negociação na Ucrânia avança, mas com aumento da agressividade de Putin e Biden

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin - Mikhail Klimentyev/Kremlin via Reuters

A guerra na Ucrânia encerrou sua terceira semana com a coleção usual de horrores: combates renhidos entre forças de Vladimir Putin e os defensores ucranianos, civis sendo mortos ou expulsos de suas casas pela violência da invasão e um mar de desinformação.

Mas esta quarta-feira (16) também foi marcada por uma aparente ciclotimia de expectativas. De um lado, os envolvidos elevaram o tom de suas retóricas. De outro, há sinais palpáveis de que as negociações avançam rumo a pelo menos algum tipo de cessar-fogo.

Na realidade, as duas dinâmicas estão entrelaçadas, dado que ninguém quer sair como derrotado. Assim, Putin foi filmado em mais uma longa digressão acerca dos riscos que via numa Ucrânia ocidentalizada, para justificar o injustificável. Mas o russo enfatizou sua real motivação: se vê em guerra não com Kiev, mas com o Ocidente.

Chamou as sanções impingidas à Rússia de "blitzkrieg econômica" e previu o fim de um certo plano de dominação global por parte dos ocidentais, Estados Unidos de Joe Biden à frente.

Já o presidente americano começou o dia anunciando mais um pacote de ajuda militar e humanitária a Kiev e encerrou chamando Putin de criminoso de guerra, cobrado pelo ucraniano Volodimir Zelenski —este sob cerco russo.

O ucraniano pediu ao Congresso dos EUA que a ajuda seja mais incisiva, na forma de envolvimento da Otan (aliança militar ocidental) no conflito, passaporte para a guerra maior, talvez mundial, nuclear.

Tambores tocados, alguma luz surgiu em meio aos fumos da guerra. Negociadores russos e ucranianos, e mesmo Putin e Zelenski, deram declarações de que pode haver acordo sobre pontos da rendição condicional proposta por Moscou.

Ninguém usará esse termo, mas se aceitar renunciar à Otan e reconhecer territórios perdidos desde 2014, mantendo a cadeira, é o que o país atacado terá aceitado fazer.

Talvez seja a saída possível contra mais derramamento de sangue, e certamente não será o fim do cerco ocidental a Putin e à Rússia, sob o risco de validar a vitória da força bruta sobre a diplomacia.

Uma nova era nas relações internacionais está sendo gestada nesta crise, com a China atenta.

Todos os lados falam grosso porque talvez o momento da acomodação esteja próximo, o que dá sentido lógico aos sinais trocados. Putin precisa parecer forte para legitimar sua nova etapa de poder ante as elites que até aqui viviam em mutualismo com o autocrata.

Biden, a despeito da fraqueza de uma aliança militar que não pode fazer guerras, poderá dizer que venceu Putin com a força do dólar. E Zelenski sai da condição de presidente questionado e impopular à romantizada condição de Churchill do rio Dnipro. Como em todas as guerras, claro, há espaço para tudo dar errado.

editoriais@grupofolha.com.br

Erramos: o texto foi alterado

A versão inicial do editorial mencionava erroneamente que os fatos analisados ocorreram na quinta-feira. O texto foi corrigido.

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