Descrição de chapéu
Makchwell Coimbra Narcizo

Uma novidade nada nova na democracia francesa

Possível vitória de Macron não eclipsa contínua ascensão da extrema direita

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Makchwell Coimbra Narcizo

Doutor em história (UFU), é professor (Unemat) e pesquisador (PUC Goiás); autor de “A Extrema Direita Francesa em Reconstrução: Marine Le Pen e a Desdemonização do Front National [2011-2017]” (Paco Editorial)

Ao fim do primeiro turno das eleições presidenciais na França, alguns questionamentos e observações se tornaram latentes. Especialmente se há de fato novidade no processo eleitoral e acerca do futuro da democracia francesa.

O atual presidente, Emmanuel Macron (REM), obteve 27,8% dos votos e fará o segundo turno neste domingo (24) com Marine Le Pen (RN), que alcançou 23,1%. Importante destacar, também, a subida repentina na reta final por parte do socialista Jean-Luc Mélenchon (LFI), com 22% dos votos, e por parte do candidato de extrema direita Éric Zemmour (Reconquête), com 7,1%.

O candidato à reeleição, o centrista Emmanuel Macron, e a ultradireitista Marine Le Pen participam de debate na TV; eleitores vão às urnas neste domingo (24) para escolher o próximo presidente da França - Ludovic Marin - 20.abr.22/AFP

Algumas percepções tornam-se possíveis, sendo feitas de forma mais detalhada; logo, exigindo mais tempo e paciência. Os resultados de primeiro turno não são novidade, mas uma continuidade de algo que tem se renovado na política francesa.

Socialistas e republicanos que protagonizaram as disputas na Quinta República têm visto o eixo político se modificar, uma vez que já se trata do segundo pleito consecutivo que a disputa se dá entre o centrista Macron e a representante da extrema direita Le Pen. Essa mudança não ocorre de forma acidental, visto que o crescimento do RN, outrora FN, se dá de forma gradativa e consistente, pois os votos em Marine Le Pen não são votos de protesto como eram os do pai, Jean-Marie Le Pen.

Hoje há na França uma legenda de extrema direita que, mesmo que busque se apresentar de forma mais moderada, é um dos principais partidos do país. Por sua vez, Mélenchon mostra que os socialistas ainda têm sua força, especialmente por conquistar votos ao sul da França, que nas últimas eleições votaram de forma consistente na extrema direita.

Outra questão importante, que delineará o futuro da República Francesa, é saber se o tradicional "cordão sanitário" funcionará mais uma vez, ou seja, a união de partidos contra o extremismo, algo já tradicional no país. Há um desafio, porém: os candidatos de extrema direita Zamour —que durante a campanha atacou abertamente Le Pen, alegando que esta tem se tornado moderada em excesso— e Nicolas Dupont-Aignan (DLF), ex-parceiro dos Le Pen, declararam voto e apoio para a candidata do RN após os resultados do primeiro turno.

Logo, desta vez, há votos consideráveis entre votantes de extrema direita para serem conquistados: 9,2%. Portanto, resta saber se a aliança contra a extrema direita prevalecerá.

Independentemente do resultado, 24 de abril mostrará algo novo, mas não um novo abrupto. Essa novidade tem se dado nos últimos anos, com o protagonismo da extrema direita no cenário político francês. A campanha de Macron foi mais pautada em combater a extrema direita do que em suas propostas de governo ou seus feitos —ou seja, a extrema direita pauta a política francesa cada dia mais.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.