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O que a Folha pensa União Europeia

A ressaca do premiê

Em meio a escândalo das festas, Boris Johnson se segura a custo no Reino Unido

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O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson - Jessica Taylor/AFP

Após meses se equilibrando numa corda bamba política, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, conseguiu, ao menos por ora, pousar os pés em terra firme.

Na segunda (6), o premiê logrou permanecer no comando do país, ao vencer o voto de desconfiança que sua própria agremiação, o Partido Conservador, havia convocado contra ele devido ao escândalo desencadeado pela revelação de uma série de festas no interior da residência oficial durante as restrições provocadas pela pandemia.

Para haver a deliberação, era necessário que no mínimo 54 correligionários (15% da bancada) solicitassem o escrutínio a um órgão conhecido como Comitê 1922 —o que se verificou no domingo.

Na votação do dia seguinte, porém, Johnson prevaleceu com alguma folga, vencendo por 211 votos a 148 —ele precisava do apoio de ao menos 180 dos 359 parlamentares do partido para manter o cargo.

Apesar do triunfo, o histórico recente se afigura pouco animador para o premiê. Sua antecessora, a também conservadora Theresa May, venceu em 2018 votação idêntica apenas para, seis meses depois, renunciar em meio às dificuldades da saída da União Europeia.

Mesmo que Johnson logre permanecer no posto até o fim, parece claro que a credibilidade adquirida pela esmagadora vitória em 2019 pulverizou-se desde que o escândalo veio à tona.

Foi particularmente constrangedor para o premiê o relatório interno produzido por uma alta autoridade governamental e tornado público no final de maio.

Num momento em que quase todo o comércio estava fechado e os encontros eram limitados a duas pessoas, em locais abertos e a dois metros de distância, a residência oficial abrigava animadas festas madrugada adentro.

Ao todo, segundo o relatório, 83 pessoas ligadas ao governo participaram das pândegas, e o premiê esteve presente em oito delas.

A impopularidade de Johnson, já evidenciada por pesquisas de opinião e pela oposição de seus correligionários, ficou publicamente demonstrada na última sexta (3), durante as celebrações do Jubileu de Platina da rainha Elizabeth 2ª, quando o premiê recebeu uma sonora vaia ao chegar a um dos eventos da comemoração.

Johnson pode ter conseguido afastar a espada de Dâmocles que pendia sobre sua cabeça, mas vai se convertendo numa espécie de morto-vivo da política britânica.

editoriais@grupofolha.com.br

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