A agitação política, o conflito entre Poderes e a escalada dos preços dos combustíveis e de outros produtos parecem por ora não afetar as intenções de voto para presidente.
A nova pesquisa Datafolha mostra um cenário quase inalterado em relação ao de março. De mais significativo, nota-se que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua a ter apoio bastante para, em teoria, vencer a eleição no primeiro turno —53% dos votos válidos.
Tal perspectiva tende a incentivar ainda mais o governo de Jair Bolsonaro (PL) a buscar medidas que possam render pontos suficientes para evitar a derrota precoce.
É um estímulo a providências imediatas e imediatistas, tanto na esfera de favores com dinheiro público quanto no combate por meio de mídias digitais ou na procura de bodes expiatórios para desviar a atenção da falta de governo.
Lula continua à frente, com votação quase inalterada em 47%, ante os 28% de Bolsonaro. O petista venceria hoje o presidente por 57% a 34% dos votos em um eventual segundo turno. O mandatário seria também derrotado por Ciro Gomes (PDT), por 51% a 37%. Observe-se que, no primeiro turno, Ciro tem apenas 8% das preferências.
Tampouco houve mudança na rejeição aos pré-candidatos ou sinal de reação de quem se apresenta como alternativa, como o pedetista ou Simone Tebet (MDB). Depois da melhora entre o final do ano passado e março, a avaliação do governo também tem permanecido estável. O governo é ruim ou péssimo para 47% do eleitorado; ótimo ou bom para 26%.
Quaisquer que sejam os determinantes do voto, tais fatores não alteraram a percepção dos eleitores ou não apresentaram mudança relevante. Más notícias, como combustíveis mais caros, suspeitas de corrupção no governo ou tragédias como os assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira, por exemplo, não alteraram convicções.
Além do mais, 70% dos entrevistados dizem que não mudarão mais seu voto. De todo modo, a história do pleito se torna menos previsível em um cenário de segundo turno, dado potencial de tumulto com as ameaças golpistas de Bolsonaro.
O governo e seus aliados devem ficar ainda mais decididos a ampliar benefícios sociais e a tomar medidas de curto prazo a fim de ganhar algum terreno nas pesquisas, não importam os danos colaterais.
A situação socioeconômica pouco deve se alterar até outubro. A campanha plena será curta. Deve chamar mais atenção do público em geral apenas em fins de agosto, quando começa em TV e rádio.
Pode ser tarde. A lógica indica que, nas próximas semanas, Bolsonaro terá de usar toda a força da máquina pública e da propaganda para manter-se vivo na disputa.
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