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Números da fome

Insegurança alimentar grave avança no mundo; Brasil soma suas mazelas a processo

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Pertences de moradores de rua ocupam uma calçada em São Paulo - Lalo de Almeida - 23.jun.19/Folhapress

O nova edição do relatório "O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo", recém-divulgada pela ONU, tem um tom soturno. Constata-se ali que a recuperação econômica em 2021, após o pior momento na pandemia, não deteve a expansão global da fome.

Com o impulso dos impactos da Covid-19, a parcela da população mundial enfrentando insegurança alimentar grave —fome— subiu de 9,3% para 10,9% em 2020. Em vez de cair ou se estabilizar, a cifra foi a 11,7% no ano passado. E, como aponta o documento, ainda estão por serem computados os efeitos da guerra na Ucrânia.

A piora é generalizada, mas os números mais alarmantes, previsivelmente, estão na África, na América Latina e na Ásia. E a desigualdade não é apenas regional.

"Grupos desfavorecidos da população, como mulheres, jovens, trabalhadores de baixa qualificação e empregados no setor informal, foram desproporcionalmente afetados pela pandemia e pelas medidas sanitárias", avalia o relatório das Nações Unidos.

Dito de outro modo, os vulneráveis perderam mais quando a economia parou e recuperaram menos quando as atividades voltaram. Em resumo, as disparidades de renda se agravaram.

O Brasil, claro, não ficaria imune a tal processo —ao qual acrescenta suas mazelas particulares.

Ainda que seus números não se destaquem entre os piores do planeta ou do continente, o país mostra deterioração aguda quando se faz uma comparação de prazo mais longo. Entre 2014 e 2016, 1,9% dos brasileiros passavam fome; no período 2019-21, a proporção subiu a 7,3%, ou 15,4 milhões de pessoas.

O desempenho da economia, que tem sido abaixo de medíocre há quase uma década, decerto explica grande parte da degradação. Mais recentemente, a escalada inflacionária agravou o quadro.

O governo Jair Bolsonaro (PL) deu as costumeiras respostas atabalhoadas à situação. A expansão da proteção social por meio do Auxílio Brasil, necessária, deu-se às pressas e com regras que reduzem a eficiência do benefício. Pior, a elevação inconsequente do gasto público tende a agravar a inflação e prejudicar o crescimento.

A próxima administração terá de aperfeiçoar o programa de renda e, ao mesmo tempo, retomar a agenda de reequilíbrio do Orçamento. A fome exige pressa, mas seu enfrentamento só terá sucesso com boa gestão da economia.

editoriais@grupofolha.com.br

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