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O que a Folha pensa inflação

Após a deflação

Na sequência da queda nos preços, país vislumbra a desaceleração da economia

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Posto de gasolina em São Paulo - Adriana Toffetti/Ato Press/Agência O Globo

A trégua da inflação continuou em agosto. A queda de 0,36% do IPCA, o principal índice de preços ao consumidor, foi a segunda consecutiva e levou a variação acumulada em 12 meses para 8,73%, o primeiro resultado abaixo de dois dígitos desde setembro de 2021.

A boa notícia decorre principalmente da redução no preço dos combustíveis. Como resultado de cortes de impostos domésticos e do barateamento do petróleo no mercado mundial, a gasolina caiu 11,64% e sozinha subtraiu 0,67 ponto percentual do índice.

De modo geral, preços industriais também proporcionam alívio, conforme se normalizam as condições de produção e transporte no mundo, passados os piores impactos da pandemia. A valorização do real também tem contribuição relevante, ao baratear importações. A alimentação no domicílio, embora tenha subido 13,4% em 12 meses, também deve perder fôlego.

Com isso, as projeções para o fechamento do ano caíram de quase 9%, em junho, para 6,6% agora. É um progresso relevante, mas ainda incipiente e longe de garantir uma trajetória sustentável de redução.

Como é usual no Brasil, o longo período de inflação elevada reforça a indexação, o que confere caráter inercial aos preços, dificultando seu controle. Sinal disso é a aceleração dos serviços, que deve manter o IPCA acima das metas oficiais pelo menos até 2024, pelas projeções mais recentes.

Daí os sinais de conservadorismo do Banco Central. Embora tenha indicado o fim do ciclo de alta de juros, a instituição sugere que sua taxa, hoje em 13,75% ao ano, deverá permanecer alta por vários meses.

Inflação e juros elevados são uma combinação ruim para a atividade econômica. Ainda que o crescimento do Produto Interno Bruto venha surpreendendo positivamente e possa superar 2,5% neste ano, espera-se um impacto crescente do torniquete financeiro.

O custo é visível para ampla parcela da população que tem dificuldades de manter o consumo de serviços mais caros —um novo golpe após dois anos de alimentos e outros itens essenciais em disparada.

Com o endividamento em alta, o encarecimento do crédito restringe o orçamento das famílias. Indicadores relativos ao início do terceiro trimestre já mostram perda de fôlego da atividade. São críveis as projeções que apontam para crescimento menor em 2023, apenas 0,5%. Melhorar esse prognóstico será desafio do próximo governo.

editoriais@grupofolha.com.br

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