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O que a Folha pensa Rússia

Europa sem gás

Continente vive escassez de energia devido à guerra e se aproxima da recessão

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Caminhão mostra preços de combustíveis em diferentes países europeus, em Hamburgo, na Alemanha - Fabian Bimmer - 19.mar.22/Reuters

Um dos desdobramentos econômicos mais dramáticos da guerra na Ucrânia é o baque no fornecimento de gás para a Europa por parte da Rússia. Multiplicou-se por dez o custo da principal fonte de energia para fábricas e residências, o que eleva a probabilidade de uma recessão nos próximos meses.

O impacto no continente é brutal, a começar pela escalada da inflação, que chega a dois dígitos em vários países. As contas de luz em alta têm provocado protestos populares, uma aposta de Vladimir Putin para erodir a unidade do apoio ocidental à Ucrânia.

Nas últimas semanas, contudo, os sinais de progresso militar da Ucrânia parecem reforçar o alinhamento. Até agora, a carestia não alterou substancialmente a posição popular —pesquisa recente na Alemanha indica que 70% são favoráveis ao apoio ao país agredido.

Diante desse fato, Putin não hesitou em radicalizar o uso do gás como arma, chegando a ponto de descontinuar o fluxo por meio dos gasodutos como represália às sanções adotadas pelos europeus.

Nas últimas décadas, a orientação geopolítica, sob liderança da Alemanha, foi ancorar a produção industrial no fornecimento de gás russo barato. A dependência se tornou perigosa, atingindo mais de 40% das importações —a parcela caiu a 9% nos últimos meses.

A dificuldade na busca de opções é óbvia. Nos primeiros meses da guerra, gás e petróleo russos continuaram a chegar, mesmo com sanções, a preços mais altos ocasionados pelo próprio conflito, financiando a máquina de guerra de Putin. Estima-se que neste ano a receita com exportações tenha chegado a cerca de US$ 140 bilhões.

A decisão política de descontinuar a dependência da Rússia está tomada, mas não será indolor. A União Europeia tem adotado medidas de economia, e até racionamento, de modo a armazenar o máximo de gás antes do inverno.

Buscam-se fontes alternativas, como o gás liquefeito importado do Oriente Médio e dos Estados Unidos. Para tanto, porém, será necessário grande investimento em terminais de armazenamento.

Em outra frente, além do apoio dos governos às empresas e famílias, financiado em parte por impostos sobre ganhos extraordinários de empresas fornecedoras de energia, estuda-se a adoção de limites para o preço do gás.

Tudo sugere que a economia europeia enfrentará duros desafios, com efeitos no restante do mundo.

editoriais@grupofolha.com.br

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