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Paulo Ludmer

Aprendemos com a Alemanha?

Dúvida é se o Brasil saberá gerir com eficiência todo o nosso potencial energético

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Paulo Ludmer

Jornalista, professor e engenheiro, é autor de "Tosquias Elétricas", "Placebos elétricos" e "Hemorragias Elétricas" (Artliber)

A imprensa não está abordando camadas mais profundas da piora na transição energética mundial com a guerra da Ucrânia. A mídia apenas registra a atual lentidão da substituição de insumos energéticos fósseis por renováveis, de modo a conter a violência das mudanças climáticas. O processo é regressivo em países sem opção frente ao inverno. Mas falta muito a refletir além da oferta e dos preços.

O noticiário atribui ingenuidade à Alemanha pela confiança que depositou na Rússia, assumindo uma ampla dependência energética. Acerta sem querer quando desnuda o risco que envolve a palavra confiança. Mostra Berlin em sua crença civilizada de que Moscou cumpriria os acordos de fornecimento de gás.

Ora, não é simplório o relacionamento Moscou-Berlin. Você que me leu até aqui trace sempre uma trajetória paralela com o Brasil, onde os agentes da cadeia produtiva de energia também dependem da confiança, da previsibilidade, do acaso, dos acordos e da civilização. Antes de ir adiante lembro que a civilização é uma invenção de crenças, virtudes e repertórios nos quais todos querem acreditar. Civilizados já absorveram Hitler, Mussolini e Stálin.

Quando Angela Merkel contratou o novo gasoduto russo pelo mar Báltico até seu litoral norte, protegeu o país dos entreveros entre a Rússia e as Ossétias, por onde os pipe lines sofreriam novas chantagens. Merkel assinou o projeto depois de consulta às oligarquias e vozes articuladas de seu país. Ela certamente considerou os efeitos sobre as relações com os EUA e a comunidade europeia (fustigadas por Donald Trump). Há que apurar toda a contextualização em que os fatos ocorreram.

Importa para nós, celeiros de energia no planeta. Carecemos da governança que não tivemos no governo de Jair Bolsonaro (PL). No vácuo do Planalto, o Congresso trucidou nosso equilíbrio fiscal, inventando (entre muitos) dispêndios injustificáveis com energia nas costas dos consumidores (vide jabutis na privatização da Eletrobras). Urge acertar.

A Alemanha errou, assumiu riscos que lhe dominaram. Desligou suas nucleares, abandonou o carvão. Confiou? E nós, brasileiros, que temos na energia a oportunidade de grande valor para o mundo (vide o hidrogênio cinza no etanol, verde, eólico), vamos gerir com eficiência e eficácia, riscos e acasos?

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