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Børge Brende

Bolsas de colaboração oferecem esperança contra os desafios globais

Objetivos são imperiosos demais para permitir que desacordos prejudiquem o progresso

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Børge Brende

Presidente do Fórum Econômico Mundial

Os líderes mundiais estão reunidos em Nova York para a abertura da 77a sessão da Assembleia-Geral da ONU e para discutir as principais questões atuais. A lista de itens da agenda é longa.

A guerra na Ucrânia continua em fúria, os mercados de energia estão instáveis, as temperaturas globais estão aumentando e a pandemia provocada pela Covid-19 persiste à medida que outras preocupações com a saúde pública emergem. Enquanto isso, a inflação tem provado ser onipresente, sobrecarregando consumidores, empresas e governos em todo o mundo.

Para enfrentar esses desafios, os líderes globais provavelmente enfatizarão a necessidade de fortalecer a cooperação dentro do que o secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou de "mundo fraturado" de hoje. A questão é: em um momento em que a fragmentação parece estar aumentando, em que se traduz, em termos práticos, a cooperação global? Felizmente, temos exemplos. Porque, apesar dos ventos adversos, há exemplos —bolsas— de colaboração que não só são promissores, mas oferecem uma visão do que torna a cooperação possível e até mesmo duradoura.

A colaboração frutífera tende a ser caracterizada por três fatores: a necessidade é urgente, a área de colaboração é específica e os benefícios são claros.

A ação climática é talvez o exemplo que mais se sobressai de cada um deles.

A urgência de enfrentar o aquecimento global é inegável. A mudança climática está causando cada vez mais estragos no mundo inteiro, causando imenso sofrimento econômico e humano. As enchentes devastadoras no Paquistão são o mais recente exemplo de perda de vidas devido a padrões climáticos mais intensos. Este é o motivo pelo qual a ONU acionou o alerta no início deste ano, afirmando em seu último relatório sobre as mudanças climáticas que o momento de agir para evitar um aquecimento global catastrófico é "agora ou nunca".

Como resultado da urgência, são necessárias ações específicas. Os líderes mundiais desenvolveram "benchmarks" que, se alcançados a tempo, poderiam mitigar os efeitos negativos da mudança climática. Isso inclui esforços para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em 45 % até 2030 e atingir emissões zero líquidas até 2050. Tal redução, esperam os especialistas, poderia limitar o aquecimento global a menos de 1,5ºC em comparação com os níveis pré-industriais. Até agora, mais de 70 países, que respondem por 76% das emissões globais, criaram cronogramas para atingir o nível zero líquido.

E os benefícios de colaborar com a mudança climática são claros. Sabemos que os efeitos do aquecimento do planeta não têm limites; portanto, atingir nossos objetivos climáticos só pode acontecer quando as partes trabalharem em conjunto. Além disso, a transição para sistemas de energia verde —chave para combater a mudança climática— deverá gerar mais de 10 milhões de empregos em nível global nesta década.

Tudo isso é a razão pela qual 196 partes se reuniram em 2015 para adotar o Acordo de Paris e acordaram no ano passado, na Conferência do Clima das Nações Unidas em Glasgow (COP26), para aumentar os compromissos de redução de carbono.

A ação climática também oferece evidências de que os países podem compartimentar e priorizar a colaboração em uma questão específica, apesar de discordâncias em outras.

Os Estados Unidos e a China, por exemplo, têm demonstrado vontade de coordenar. No ano passado, na COP26, os dois países emitiram uma declaração conjunta que articulou a "seriedade e urgência da crise climática" e delineou áreas nas quais ambos os lados tomariam medidas de cooperação.

Mais recentemente, na Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, em maio de 2022, os enviados climáticos dos EUA e da China reafirmaram a cooperação climática entre seus dois países. Certamente, essa colaboração encontrou dificuldades, com conversas recentemente suspensas. Mas John Kerry, enviado especial da Presidência dos EUA para o clima, expressou a esperança de que eles retomariam, porque a ação climática "é a única área que não deve ser interrompida por causa de outras questões que nos afetam".

Vale lembrar também que, mesmo durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética coordenaram políticas de proteção ambiental especificamente sobre diretrizes em torno da poluição do ar e da água, preservação ambiental e mecanismos gerais para acompanhar as mudanças climáticas.

É importante ressaltar que não precisamos esperar pelas linhas laterais para estes três elementos —urgência, especificidade e resultados benéficos— para que apareçam por si mesmos. Em vez disso, desde enfrentar a pandemia de Covid-19 para reforçar a economia global e desbloquear os benefícios da nova tecnologia, os líderes podem construir um impulso para a cooperação, identificando e avançando cada um desses elementos.

Há outro fator que torna a cooperação promissora quando ela ocorre. A inclusividade.

As parcerias entre empresas, governos e organizações cívicas estão ajudando a avançar importantes esforços na luta contra a mudança climática. Mais de 7.000 empresas, 1.000 instituições educacionais e 1.000 cidades aderiram à campanha "Race to Zero", apoiada pela ONU para reduzir as emissões globais em 50 % até 2030 e que o Fórum Econômico Mundial está ajudando a avançar. Esse tipo de colaboração generalizada não só torna os resultados positivos mais prováveis, mas serve como uma força vinculadora entre as partes que melhora a durabilidade.

Enfrentar os desafios do mundo não é tarefa fácil. É por isso que devemos permanecer atentos aos primeiros sinais de uma possível colaboração —e moldar o contexto para que ela então se torne provável. Os desafios são simplesmente altos demais para permitir que desacordos em outros lugares prejudiquem o progresso em torno de questões cruciais.

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