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Lobby da bala

Pleito por armas pode ser legítimo, mas a literatura desaconselha tal política

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Homem dispara arma em clube de tiro em São Paulo
Homem dispara arma em clube de tiro de São Paulo - Carla Carniel/Reuters

O bolsonarismo foi bem-sucedido, infelizmente, na disseminação de uma ideologia armamentista no país. Ela se reflete em várias métricas, das quais uma das mais evidentes é o aumento do número de clubes de tiro —eram 151 no início do governo Jair Bolsonaro (PL) e passaram a 1.906 agora.

A quantidade de armas legais em circulação também subiu significativamente, de 350,7 mil em 2018 para 1 milhão, alta de 187%.

Os chamados CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) não se limitam a disparar seus artefatos em estandes de tiro. Reportagens publicadas pela Folha mostraram que os clubes se tornaram palanques para candidatos bolsonaristas e que já se constituiu uma rede de financiamento de defensores das pautas armamentistas.

Por meio da Lei de Acesso à Informação, constatou-se que 91 candidaturas receberam mais de R$ 50 milhões. Entre os doadores estão alguns dos grandes empresários que apoiam Bolsonaro.

Em princípio, não há nada de ilegítimo em defender teses controversas, levar candidatos a espaços privados e financiá-los até os limites estabelecidos. Faz parte da democracia, também, postular mudanças na legislação em vigor.

O que não é admissível é valer-se do poder de regulamentação para driblar o espírito da lei —e isso Bolsonaro fez, por meio de decretos, contra a opinião majoritária da população e, provavelmente, do Congresso Nacional. Tardiamente, as medidas foram limitadas pelo Supremo Tribunal Federal.

No período, os clubes de tiro se multiplicaram e os entusiastas da atividade tiveram maior acesso a armas e munições. É nesse contexto que se dá a decisão, tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta quinta (29), de proibir que CACs carreguem armas e munições no dia da eleição e nas 24 horas anteriores e seguintes.

Quanto ao mérito da questão, a literatura mostra de forma inequívoca que, quanto maior a quantidade de armas em circulação, maiores os índices de acidentes e de suicídios. Também se eleva o risco de uma pessoa envolver-se em conflitos que terminam em homicídio.

Armas também são roubadas e passam a integrar os arsenais dos criminosos, contribuindo para o ciclo de violência. São fatores que, no entender deste jornal, justificam um controle rígido do comércio dos produtos e da prática do tiro.

editoriais@grupofolha.com.br

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