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Tiro no pé

Ao omitir economia, Lula desrespeita o eleitor e pode perder votos conservadores

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Bruno Santos/Folhapress

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se aproxima de uma possível terceira vitória para a Presidência em seis tentativas desde 1989. Esse velho conhecido da política brasileira, paradoxalmente, é fonte de grande incerteza quando se trata de antecipar os caminhos de governo que pretende trilhar caso as urnas confirmem seu favoritismo.

Com 50% das intenções de votos válidos na mais recente pesquisa do Datafolha, o petista aumentou as suas chances de eleger-se no escrutínio do próximo domingo (2), dispensando o segundo turno.

Essa perspectiva torna ainda mais criticável a esquiva do ex-presidente de deixar claro quem dará as cartas na política econômica num novo governo --decisão que na tradição brasileira permite prever para que rumo esse setor crucial da administração irá caminhar.

A economia, além de vertebral em qualquer governo, desponta como tema urgente do próximo mandatário. Evitar a recaída na inflação, assegurar que haja recursos para os mais pobres no Auxílio Brasil e manter as condições para um crescimento sustentado do emprego e da renda é do interesse imediato de toda a sociedade.

Mas a esse respeito a campanha de Lula, errática, solicita um cheque em branco do eleitorado.

De um lado, o ex-presidente acena ao programa responsável que caracterizou seu primeiro governo. Compôs chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) e nesta semana recebeu apoio de Henrique Meirelles (União Brasil), chefe do Banco Central nos dois primeiros mandatos petistas e ministro da Fazenda de Michel Temer (MDB).

Do outro, o candidato petista arremete contra o teto de gastos públicos sem apresentar substituto, alardeia aumentos de despesas fora da capacidade orçamentária, flerta com quem despreza a autonomia do BC e com o retorno das políticas intervencionistas dos ideólogos do PT, as mesmas que produziram um desastre econômico.

Restam óbvios os ganhos para Lula de comprometer-se com a orientação adotada na sua primeira passagem pelo Planalto. A caminhada para o centro alargaria a base de votos para além dos petistas, tornando mais provável a vitória eventualmente em primeiro turno, e melhoraria desde logo as perspectivas de governabilidade. Não fazê-lo é um tiro no pé.

Mesmo na hipótese de Lula dobrar a aposta intervencionista, é melhor deixar isso claro para evitar o estelionato eleitoral após a posse.

O país deveria saber, e antes da votação, para onde rumaria a quinta gestão petista, se para o programa estatista que ainda encanta boa parte dos economistas do partido ou se para a abordagem pragmática que combina liberalismo econômico e responsabilidade social.

editoriais@grupofolha.com.br

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